Crítica

Crítica

"Avatar: O Caminho da Água" é uma maravilhosa e poderosa repetição do primeiro filme

9/2/2023

Com efeitos muito bem trabalhados e paisagens belíssimas que ecoam realismo, Avatar: O Caminho da Água se destaca por seu primor técnico da mesma maneira que o primeiro. E como o primeiro, sua história se mostra não muito original.

escrito por
Luis Henrique Franco

Com efeitos muito bem trabalhados e paisagens belíssimas que ecoam realismo, Avatar: O Caminho da Água se destaca por seu primor técnico da mesma maneira que o primeiro. E como o primeiro, sua história se mostra não muito original.

escrito por
Luis Henrique Franco
9/2/2023

Faz treze anos desde que Avatar, a enorme produção de James Cameron, conquistou o mundo em sua estreia no cinema. Com a inovação da imagem 3D, o filme chocou o público com seus efeitos visuais lindos e bem trabalhados, construindo em Pandora um mundo quase palpável e real. Fenômeno logo de cara, o filme conquistou a maior bilheteria de cinema da época, e era o favorito para o Oscar daquele ano (que, inexplicavelmente, acabou indo para Guerra ao Terror). Treze anos depois, James Cameron retoma a sua franquia com Avatar: O Caminho da Água, e parece tentado a repetir o feito, com uma bilheteria cada vez maior e novas indicações ao Oscar.

A sequência se passa doze anos depois do primeiro filme. Jake Sully (Sam Worthington) assumiu a forma definitiva de seu avatar Na'vi e construiu uma família ao lado de sua esposa Neytiri (Zoe Saldana). Mas a paz que o casal desfrutou por doze anos logo se vê destruída com o retorno dos humanos em uma nova força de invasão liderada pela general Ardmore (Edie Falco) e pelo major Quaritch (Stephen Lang), agora renascido em um corpo Na'vi. Por conta disso, Jake parte com sua esposa e quatro filhos para uma tribo distante de Na'vis acostumados a viver na água, onde eles buscam refúgio.

Jake (Sam Worthington) se encontra com o chefe da tribo da água (Cliff Curtis) para pedir proteção

É em meio a esse novo ambiente que o filme se passa por completo. Bem familiarizado com a necessidade de se expandir o mundo de uma franquia em suas sequências, Cameron se dedica fortemente a construir essa nova localidade e cultura, cheia de aspectos que a diferenciam dos Na'vi vistos no primeiro filme. Os hábitos do novo povo são devidamente explorados, assim como sua conexão diferenciada com os animais marinhos, suas formas de lutar, caçar e viver em meio à água e suas políticas, em relação a outras tribos e aos humanos. Nesse aspecto, O Caminho da Água detém a sua maior força: saber introduzir novos aspectos do mundo é importante para fazer o espectador sentir que está vendo algo novo.

Também são introduzidos novos relacionamentos entre os personagens, principalmente no que diz respeito a Sully e sua família. Seus quatro filhos detêm cada um uma personalidade própria que ganha o devido destaque e carrega importância para a trama do filme. Também são importantes as relações que cada um estabelece com os residentes da tribo aquática, não só para os relacionamentos pessoais de cada um, como também para expor a temática do filme sobre união apesar das diferenças.

A adolescente Kiri (Sigourney Weaver) observa uma gravação de sua mãe Grace (também Sigourney Weaver).

Outro personagem que também recebe maior destaque é Quaritch. O retorno do vilão do primeiro filme é devidamente explicado (embora não deixe de causar estranhamento) e a ameaça que ele representa permanece forte, com Stephen Lang mantendo seu ar de fuzileiro durão e racista que o deixou tão marcado no primeiro filme. Contudo, o filme dedica mais tempo ao seu antagonista, explorando um lado mais pessoal do mesmo e aprofundando sua personalidade. É interessante ver a conturbada relação de Quaritch com seu filho Spider (Jack Champion), que foi deixado em Pandora após sua morte. O desenvolvimento dessa relação aprofunda os dois personagens e, apesar de parecer um arco solto no filme, acaba contribuindo para os momentos finais da trama e planta sementes para o desenvolvimento das próximas sequências.

Quaritch (Stephen Lang) caminha pela selva com seu novo corpode Na'vi

Como o primeiro filme, O Caminho da Água se destaca por sua qualidade técnica. Edição, fotografia, som, tudo trabalha com um primor excepcional, fruto talvez do perfeccionismo de Cameron. Mas são os efeitos especiais que mais uma vez ganham destaque. É excelente ver um filme blockbuster que não parece apressado ou mal terminado, mas que demonstra dedicação em construir um mundo bonito. A tribo da água é muito bem estabelecida, o mundo marinho é explorado com atenção a inúmeros detalhes, os animais são extremamente realistas e o próprio efeito dos Na'vi dá a impressão de que se tratam de criaturas reais, e não de criações computadorizadas.

Com todo o aprofundamento a que o filme se dedica, porém, acaba se criando um problema: a duração do longa e como essa duração é preenchida. Porque por mais prazeroso que seja ver um mundo ficcional ser desvendado e expandido aos nossos olhos, depois de mais de uma hora essa expansão começa a se tornar cansativa. O primeiro filme teve pouco esse problema por ser menor e pelo fato de que tudo nele era novo. A sequência, porém, equilibra novidades com coisas já reconhecidas, e quando as novidades começam a escassear, seria a hora da trama se desenvolver com mais afinco. O Caminho da Água, no entanto, parece segurar esse desenvolvimento, em parte pela dedicação abusiva que dá a suas tramas secundárias, seja o relacionamento conturbado de pai e filho ou o relacionamento do garoto com uma baleia alienígena desgarrada.

Lo'ak estabelece contato com uma baleia Tulkun embaixo da água.

Tudo isso torna o filme bastante cansativo e, em algumas partes, repetitivo, como se a trama principal empacasse e não soubesse para onde ir, dedicando-se a essas tramas secundárias como forma de ganhar tempo até o seu momento de se desenrolar novamente.

E a própria história em si sofre do problema de ser um ambiente familiar demais, ganhando o ar de algo reciclado e repetido. O primeiro filme já apresentou essa questão, com seu primor técnico disfarçando uma história não muito original no ponto de vista narrativo. Aqui, essa história se repete e não fornece uma substância nova ao qual o público possa se agarrar, de forma que podemos prever para onde o filme caminha e anteciparmos momentos e conflitos importantes, tirando seu peso quando acontecem.

Isso não quer dizer que o novo Avatar seja tedioso. Muito pelo contrário, é um filme maravilhoso e belo, feito com bastante carinho e que mostra uma dedicação em expandir o mundo em que está envolvido. Essa expansão pode vir à custa de uma trama original, mas isso seria um problema pequeno, não fosse o tempo exagerado da história.

EXPECTATIVAS PARA O OSCAR

Prêmios Indicados: Melhor Filme, Melhor Som, Melhores Efeitos Visuais, Melhor Design de Produção

Em 2010, quando o primeiro Avatar perdeu o prêmio de Melhor Filme para Guerra ao Terror, foi um verdadeiro choque para muita gente, soando praticamente como uma injustiça. Em 2023, embora a presença de Avatar: O Caminho da Água entre os indicados a Melhor Filme seja compreensível, quase ninguém espera a sua vitória. Mesmo com todo o seu primor técnico e conquistas na direção, o filme peca na construção de sua história, que demora demais para se desenvolver e se perde muito em tramas secundárias. Mesmo sendo uma sequência que de fato traz algo novo e enriquece o primeiro filme, ainda deixa a desejar em muitos quesitos-chave, e a falta de indicações em categorias importantes (direção e roteiro, por exemplo), deve pesar contra o filme.

Já nos quesitos técnicos, a história é diferente. Avatar: O Caminho da Água possui um grande destaque, tanto em Som quanto em Design de Produção. Toda a construção de Pandora, das Aldeias Na'vi, da Base Terráquea e do novo mundo marinho é feita de maneira rica, e sua criação é algo vivo facilmente sentido pelo espectador, de tão palpável que todo o ambiente e os cenários se tornam. Junta-se a isso o poderoso trabalho de som, seja nos efeitos aquáticos, no barulho dos animais, motores e naves. Tudo dá a sensação de algo vivo, pulsante, poderoso... real. Por mais que possa parecer redundante, em um filme onde tudo é fantástico e fantasioso, a sensação de realidade que o design de produção e o som conseguem dar a Pandora é algo sublime que aumenta muito a imersão do público.

Jake ensina seu filho Netanyam a usar um arco em meio às selvas de Pandora. Destaque para o visual do local e dos personagens.

E nesse quesito, chegamos à categoria principal para esse filme. É quase certo que Avatar: O Caminho da Água deva receber o prêmio de Melhores Efeitos Especiais. Mesmo quando comparado aos outros indicados, vemos uma distância de quilômetros na qualidade do que foi apresentado. Tudo no filme de Cameron parece real. Tão real que chega a ser assombroso. Não apenas os animais extraterrestres e os maquinários futuristas ou os cenários mirabolantes do planeta. A própria caracterização dos personagens é feita com vasta atenção aos detalhes, de maneira que os Na'vi não parecem nem um pouco computadorizados. Isso já era um triunfo do primeiro filme, mas aqui, esse triunfo é aumentado, e a própria pele dos personagens ganha mais destaques, mais reações naturais, mais riqueza nas feições. Batman, Nada de Novo no Front e Top Gun: Maverick devem fornecer um desafio (Pantera Negra nem tanto), mas nenhum deles conseguiu atingir esse nível de perfeição e atenção aos detalhes, fruto de uma equipe que possui tempo para trabalhar e enriquecer seu trabalho.

Detalhe do rosto de Neytiri (Zoe Saldana) mostra o nível de atenção e cuidado colocado nos efeitos especiais d filme.

No geral, Avatar: O Caminho da Água chega ao Oscar com poucas indicações, deixando assim de ser um grande destaque da premiação. Suas chances ao prêmio principal são escassas, mas é muito provável que o filme receba o devido apreço para as suas conquistas técnicas.

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Avatar: O Caminho da Água

Avatar: O Caminho da Água

Direção: 
Criação:
Roteirista 1
Roteirista 2
Roteirista 3
Diretor 1
Diretor 2
Diretor 3
Elenco Principal:
Ator 1
Ator 2
Ator 3
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Com efeitos muito bem trabalhados e paisagens belíssimas que ecoam realismo, Avatar: O Caminho da Água se destaca por seu primor técnico da mesma maneira que o primeiro. E como o primeiro, sua história se mostra não muito original.

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Luis Henrique Franco
9/2/2023

Faz treze anos desde que Avatar, a enorme produção de James Cameron, conquistou o mundo em sua estreia no cinema. Com a inovação da imagem 3D, o filme chocou o público com seus efeitos visuais lindos e bem trabalhados, construindo em Pandora um mundo quase palpável e real. Fenômeno logo de cara, o filme conquistou a maior bilheteria de cinema da época, e era o favorito para o Oscar daquele ano (que, inexplicavelmente, acabou indo para Guerra ao Terror). Treze anos depois, James Cameron retoma a sua franquia com Avatar: O Caminho da Água, e parece tentado a repetir o feito, com uma bilheteria cada vez maior e novas indicações ao Oscar.

A sequência se passa doze anos depois do primeiro filme. Jake Sully (Sam Worthington) assumiu a forma definitiva de seu avatar Na'vi e construiu uma família ao lado de sua esposa Neytiri (Zoe Saldana). Mas a paz que o casal desfrutou por doze anos logo se vê destruída com o retorno dos humanos em uma nova força de invasão liderada pela general Ardmore (Edie Falco) e pelo major Quaritch (Stephen Lang), agora renascido em um corpo Na'vi. Por conta disso, Jake parte com sua esposa e quatro filhos para uma tribo distante de Na'vis acostumados a viver na água, onde eles buscam refúgio.

Jake (Sam Worthington) se encontra com o chefe da tribo da água (Cliff Curtis) para pedir proteção

É em meio a esse novo ambiente que o filme se passa por completo. Bem familiarizado com a necessidade de se expandir o mundo de uma franquia em suas sequências, Cameron se dedica fortemente a construir essa nova localidade e cultura, cheia de aspectos que a diferenciam dos Na'vi vistos no primeiro filme. Os hábitos do novo povo são devidamente explorados, assim como sua conexão diferenciada com os animais marinhos, suas formas de lutar, caçar e viver em meio à água e suas políticas, em relação a outras tribos e aos humanos. Nesse aspecto, O Caminho da Água detém a sua maior força: saber introduzir novos aspectos do mundo é importante para fazer o espectador sentir que está vendo algo novo.

Também são introduzidos novos relacionamentos entre os personagens, principalmente no que diz respeito a Sully e sua família. Seus quatro filhos detêm cada um uma personalidade própria que ganha o devido destaque e carrega importância para a trama do filme. Também são importantes as relações que cada um estabelece com os residentes da tribo aquática, não só para os relacionamentos pessoais de cada um, como também para expor a temática do filme sobre união apesar das diferenças.

A adolescente Kiri (Sigourney Weaver) observa uma gravação de sua mãe Grace (também Sigourney Weaver).

Outro personagem que também recebe maior destaque é Quaritch. O retorno do vilão do primeiro filme é devidamente explicado (embora não deixe de causar estranhamento) e a ameaça que ele representa permanece forte, com Stephen Lang mantendo seu ar de fuzileiro durão e racista que o deixou tão marcado no primeiro filme. Contudo, o filme dedica mais tempo ao seu antagonista, explorando um lado mais pessoal do mesmo e aprofundando sua personalidade. É interessante ver a conturbada relação de Quaritch com seu filho Spider (Jack Champion), que foi deixado em Pandora após sua morte. O desenvolvimento dessa relação aprofunda os dois personagens e, apesar de parecer um arco solto no filme, acaba contribuindo para os momentos finais da trama e planta sementes para o desenvolvimento das próximas sequências.

Quaritch (Stephen Lang) caminha pela selva com seu novo corpode Na'vi

Como o primeiro filme, O Caminho da Água se destaca por sua qualidade técnica. Edição, fotografia, som, tudo trabalha com um primor excepcional, fruto talvez do perfeccionismo de Cameron. Mas são os efeitos especiais que mais uma vez ganham destaque. É excelente ver um filme blockbuster que não parece apressado ou mal terminado, mas que demonstra dedicação em construir um mundo bonito. A tribo da água é muito bem estabelecida, o mundo marinho é explorado com atenção a inúmeros detalhes, os animais são extremamente realistas e o próprio efeito dos Na'vi dá a impressão de que se tratam de criaturas reais, e não de criações computadorizadas.

Com todo o aprofundamento a que o filme se dedica, porém, acaba se criando um problema: a duração do longa e como essa duração é preenchida. Porque por mais prazeroso que seja ver um mundo ficcional ser desvendado e expandido aos nossos olhos, depois de mais de uma hora essa expansão começa a se tornar cansativa. O primeiro filme teve pouco esse problema por ser menor e pelo fato de que tudo nele era novo. A sequência, porém, equilibra novidades com coisas já reconhecidas, e quando as novidades começam a escassear, seria a hora da trama se desenvolver com mais afinco. O Caminho da Água, no entanto, parece segurar esse desenvolvimento, em parte pela dedicação abusiva que dá a suas tramas secundárias, seja o relacionamento conturbado de pai e filho ou o relacionamento do garoto com uma baleia alienígena desgarrada.

Lo'ak estabelece contato com uma baleia Tulkun embaixo da água.

Tudo isso torna o filme bastante cansativo e, em algumas partes, repetitivo, como se a trama principal empacasse e não soubesse para onde ir, dedicando-se a essas tramas secundárias como forma de ganhar tempo até o seu momento de se desenrolar novamente.

E a própria história em si sofre do problema de ser um ambiente familiar demais, ganhando o ar de algo reciclado e repetido. O primeiro filme já apresentou essa questão, com seu primor técnico disfarçando uma história não muito original no ponto de vista narrativo. Aqui, essa história se repete e não fornece uma substância nova ao qual o público possa se agarrar, de forma que podemos prever para onde o filme caminha e anteciparmos momentos e conflitos importantes, tirando seu peso quando acontecem.

Isso não quer dizer que o novo Avatar seja tedioso. Muito pelo contrário, é um filme maravilhoso e belo, feito com bastante carinho e que mostra uma dedicação em expandir o mundo em que está envolvido. Essa expansão pode vir à custa de uma trama original, mas isso seria um problema pequeno, não fosse o tempo exagerado da história.

EXPECTATIVAS PARA O OSCAR

Prêmios Indicados: Melhor Filme, Melhor Som, Melhores Efeitos Visuais, Melhor Design de Produção

Em 2010, quando o primeiro Avatar perdeu o prêmio de Melhor Filme para Guerra ao Terror, foi um verdadeiro choque para muita gente, soando praticamente como uma injustiça. Em 2023, embora a presença de Avatar: O Caminho da Água entre os indicados a Melhor Filme seja compreensível, quase ninguém espera a sua vitória. Mesmo com todo o seu primor técnico e conquistas na direção, o filme peca na construção de sua história, que demora demais para se desenvolver e se perde muito em tramas secundárias. Mesmo sendo uma sequência que de fato traz algo novo e enriquece o primeiro filme, ainda deixa a desejar em muitos quesitos-chave, e a falta de indicações em categorias importantes (direção e roteiro, por exemplo), deve pesar contra o filme.

Já nos quesitos técnicos, a história é diferente. Avatar: O Caminho da Água possui um grande destaque, tanto em Som quanto em Design de Produção. Toda a construção de Pandora, das Aldeias Na'vi, da Base Terráquea e do novo mundo marinho é feita de maneira rica, e sua criação é algo vivo facilmente sentido pelo espectador, de tão palpável que todo o ambiente e os cenários se tornam. Junta-se a isso o poderoso trabalho de som, seja nos efeitos aquáticos, no barulho dos animais, motores e naves. Tudo dá a sensação de algo vivo, pulsante, poderoso... real. Por mais que possa parecer redundante, em um filme onde tudo é fantástico e fantasioso, a sensação de realidade que o design de produção e o som conseguem dar a Pandora é algo sublime que aumenta muito a imersão do público.

Jake ensina seu filho Netanyam a usar um arco em meio às selvas de Pandora. Destaque para o visual do local e dos personagens.

E nesse quesito, chegamos à categoria principal para esse filme. É quase certo que Avatar: O Caminho da Água deva receber o prêmio de Melhores Efeitos Especiais. Mesmo quando comparado aos outros indicados, vemos uma distância de quilômetros na qualidade do que foi apresentado. Tudo no filme de Cameron parece real. Tão real que chega a ser assombroso. Não apenas os animais extraterrestres e os maquinários futuristas ou os cenários mirabolantes do planeta. A própria caracterização dos personagens é feita com vasta atenção aos detalhes, de maneira que os Na'vi não parecem nem um pouco computadorizados. Isso já era um triunfo do primeiro filme, mas aqui, esse triunfo é aumentado, e a própria pele dos personagens ganha mais destaques, mais reações naturais, mais riqueza nas feições. Batman, Nada de Novo no Front e Top Gun: Maverick devem fornecer um desafio (Pantera Negra nem tanto), mas nenhum deles conseguiu atingir esse nível de perfeição e atenção aos detalhes, fruto de uma equipe que possui tempo para trabalhar e enriquecer seu trabalho.

Detalhe do rosto de Neytiri (Zoe Saldana) mostra o nível de atenção e cuidado colocado nos efeitos especiais d filme.

No geral, Avatar: O Caminho da Água chega ao Oscar com poucas indicações, deixando assim de ser um grande destaque da premiação. Suas chances ao prêmio principal são escassas, mas é muito provável que o filme receba o devido apreço para as suas conquistas técnicas.

confira o trailer

Crítica

Com efeitos muito bem trabalhados e paisagens belíssimas que ecoam realismo, Avatar: O Caminho da Água se destaca por seu primor técnico da mesma maneira que o primeiro. E como o primeiro, sua história se mostra não muito original.

escrito por
Luis Henrique Franco
9/2/2023
nascimento

Com efeitos muito bem trabalhados e paisagens belíssimas que ecoam realismo, Avatar: O Caminho da Água se destaca por seu primor técnico da mesma maneira que o primeiro. E como o primeiro, sua história se mostra não muito original.

escrito por
Luis Henrique Franco
9/2/2023

Faz treze anos desde que Avatar, a enorme produção de James Cameron, conquistou o mundo em sua estreia no cinema. Com a inovação da imagem 3D, o filme chocou o público com seus efeitos visuais lindos e bem trabalhados, construindo em Pandora um mundo quase palpável e real. Fenômeno logo de cara, o filme conquistou a maior bilheteria de cinema da época, e era o favorito para o Oscar daquele ano (que, inexplicavelmente, acabou indo para Guerra ao Terror). Treze anos depois, James Cameron retoma a sua franquia com Avatar: O Caminho da Água, e parece tentado a repetir o feito, com uma bilheteria cada vez maior e novas indicações ao Oscar.

A sequência se passa doze anos depois do primeiro filme. Jake Sully (Sam Worthington) assumiu a forma definitiva de seu avatar Na'vi e construiu uma família ao lado de sua esposa Neytiri (Zoe Saldana). Mas a paz que o casal desfrutou por doze anos logo se vê destruída com o retorno dos humanos em uma nova força de invasão liderada pela general Ardmore (Edie Falco) e pelo major Quaritch (Stephen Lang), agora renascido em um corpo Na'vi. Por conta disso, Jake parte com sua esposa e quatro filhos para uma tribo distante de Na'vis acostumados a viver na água, onde eles buscam refúgio.

Jake (Sam Worthington) se encontra com o chefe da tribo da água (Cliff Curtis) para pedir proteção

É em meio a esse novo ambiente que o filme se passa por completo. Bem familiarizado com a necessidade de se expandir o mundo de uma franquia em suas sequências, Cameron se dedica fortemente a construir essa nova localidade e cultura, cheia de aspectos que a diferenciam dos Na'vi vistos no primeiro filme. Os hábitos do novo povo são devidamente explorados, assim como sua conexão diferenciada com os animais marinhos, suas formas de lutar, caçar e viver em meio à água e suas políticas, em relação a outras tribos e aos humanos. Nesse aspecto, O Caminho da Água detém a sua maior força: saber introduzir novos aspectos do mundo é importante para fazer o espectador sentir que está vendo algo novo.

Também são introduzidos novos relacionamentos entre os personagens, principalmente no que diz respeito a Sully e sua família. Seus quatro filhos detêm cada um uma personalidade própria que ganha o devido destaque e carrega importância para a trama do filme. Também são importantes as relações que cada um estabelece com os residentes da tribo aquática, não só para os relacionamentos pessoais de cada um, como também para expor a temática do filme sobre união apesar das diferenças.

A adolescente Kiri (Sigourney Weaver) observa uma gravação de sua mãe Grace (também Sigourney Weaver).

Outro personagem que também recebe maior destaque é Quaritch. O retorno do vilão do primeiro filme é devidamente explicado (embora não deixe de causar estranhamento) e a ameaça que ele representa permanece forte, com Stephen Lang mantendo seu ar de fuzileiro durão e racista que o deixou tão marcado no primeiro filme. Contudo, o filme dedica mais tempo ao seu antagonista, explorando um lado mais pessoal do mesmo e aprofundando sua personalidade. É interessante ver a conturbada relação de Quaritch com seu filho Spider (Jack Champion), que foi deixado em Pandora após sua morte. O desenvolvimento dessa relação aprofunda os dois personagens e, apesar de parecer um arco solto no filme, acaba contribuindo para os momentos finais da trama e planta sementes para o desenvolvimento das próximas sequências.

Quaritch (Stephen Lang) caminha pela selva com seu novo corpode Na'vi

Como o primeiro filme, O Caminho da Água se destaca por sua qualidade técnica. Edição, fotografia, som, tudo trabalha com um primor excepcional, fruto talvez do perfeccionismo de Cameron. Mas são os efeitos especiais que mais uma vez ganham destaque. É excelente ver um filme blockbuster que não parece apressado ou mal terminado, mas que demonstra dedicação em construir um mundo bonito. A tribo da água é muito bem estabelecida, o mundo marinho é explorado com atenção a inúmeros detalhes, os animais são extremamente realistas e o próprio efeito dos Na'vi dá a impressão de que se tratam de criaturas reais, e não de criações computadorizadas.

Com todo o aprofundamento a que o filme se dedica, porém, acaba se criando um problema: a duração do longa e como essa duração é preenchida. Porque por mais prazeroso que seja ver um mundo ficcional ser desvendado e expandido aos nossos olhos, depois de mais de uma hora essa expansão começa a se tornar cansativa. O primeiro filme teve pouco esse problema por ser menor e pelo fato de que tudo nele era novo. A sequência, porém, equilibra novidades com coisas já reconhecidas, e quando as novidades começam a escassear, seria a hora da trama se desenvolver com mais afinco. O Caminho da Água, no entanto, parece segurar esse desenvolvimento, em parte pela dedicação abusiva que dá a suas tramas secundárias, seja o relacionamento conturbado de pai e filho ou o relacionamento do garoto com uma baleia alienígena desgarrada.

Lo'ak estabelece contato com uma baleia Tulkun embaixo da água.

Tudo isso torna o filme bastante cansativo e, em algumas partes, repetitivo, como se a trama principal empacasse e não soubesse para onde ir, dedicando-se a essas tramas secundárias como forma de ganhar tempo até o seu momento de se desenrolar novamente.

E a própria história em si sofre do problema de ser um ambiente familiar demais, ganhando o ar de algo reciclado e repetido. O primeiro filme já apresentou essa questão, com seu primor técnico disfarçando uma história não muito original no ponto de vista narrativo. Aqui, essa história se repete e não fornece uma substância nova ao qual o público possa se agarrar, de forma que podemos prever para onde o filme caminha e anteciparmos momentos e conflitos importantes, tirando seu peso quando acontecem.

Isso não quer dizer que o novo Avatar seja tedioso. Muito pelo contrário, é um filme maravilhoso e belo, feito com bastante carinho e que mostra uma dedicação em expandir o mundo em que está envolvido. Essa expansão pode vir à custa de uma trama original, mas isso seria um problema pequeno, não fosse o tempo exagerado da história.

EXPECTATIVAS PARA O OSCAR

Prêmios Indicados: Melhor Filme, Melhor Som, Melhores Efeitos Visuais, Melhor Design de Produção

Em 2010, quando o primeiro Avatar perdeu o prêmio de Melhor Filme para Guerra ao Terror, foi um verdadeiro choque para muita gente, soando praticamente como uma injustiça. Em 2023, embora a presença de Avatar: O Caminho da Água entre os indicados a Melhor Filme seja compreensível, quase ninguém espera a sua vitória. Mesmo com todo o seu primor técnico e conquistas na direção, o filme peca na construção de sua história, que demora demais para se desenvolver e se perde muito em tramas secundárias. Mesmo sendo uma sequência que de fato traz algo novo e enriquece o primeiro filme, ainda deixa a desejar em muitos quesitos-chave, e a falta de indicações em categorias importantes (direção e roteiro, por exemplo), deve pesar contra o filme.

Já nos quesitos técnicos, a história é diferente. Avatar: O Caminho da Água possui um grande destaque, tanto em Som quanto em Design de Produção. Toda a construção de Pandora, das Aldeias Na'vi, da Base Terráquea e do novo mundo marinho é feita de maneira rica, e sua criação é algo vivo facilmente sentido pelo espectador, de tão palpável que todo o ambiente e os cenários se tornam. Junta-se a isso o poderoso trabalho de som, seja nos efeitos aquáticos, no barulho dos animais, motores e naves. Tudo dá a sensação de algo vivo, pulsante, poderoso... real. Por mais que possa parecer redundante, em um filme onde tudo é fantástico e fantasioso, a sensação de realidade que o design de produção e o som conseguem dar a Pandora é algo sublime que aumenta muito a imersão do público.

Jake ensina seu filho Netanyam a usar um arco em meio às selvas de Pandora. Destaque para o visual do local e dos personagens.

E nesse quesito, chegamos à categoria principal para esse filme. É quase certo que Avatar: O Caminho da Água deva receber o prêmio de Melhores Efeitos Especiais. Mesmo quando comparado aos outros indicados, vemos uma distância de quilômetros na qualidade do que foi apresentado. Tudo no filme de Cameron parece real. Tão real que chega a ser assombroso. Não apenas os animais extraterrestres e os maquinários futuristas ou os cenários mirabolantes do planeta. A própria caracterização dos personagens é feita com vasta atenção aos detalhes, de maneira que os Na'vi não parecem nem um pouco computadorizados. Isso já era um triunfo do primeiro filme, mas aqui, esse triunfo é aumentado, e a própria pele dos personagens ganha mais destaques, mais reações naturais, mais riqueza nas feições. Batman, Nada de Novo no Front e Top Gun: Maverick devem fornecer um desafio (Pantera Negra nem tanto), mas nenhum deles conseguiu atingir esse nível de perfeição e atenção aos detalhes, fruto de uma equipe que possui tempo para trabalhar e enriquecer seu trabalho.

Detalhe do rosto de Neytiri (Zoe Saldana) mostra o nível de atenção e cuidado colocado nos efeitos especiais d filme.

No geral, Avatar: O Caminho da Água chega ao Oscar com poucas indicações, deixando assim de ser um grande destaque da premiação. Suas chances ao prêmio principal são escassas, mas é muito provável que o filme receba o devido apreço para as suas conquistas técnicas.

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