Crítica

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Babilônia: às vezes, menos é mais

20/1/2023

Com uma boa história e um elenco estelar, Babilônia faz uma poderosa homenagem ao cinema, mas se perde em seu próprio ritmo frenético enquanto busca ser algo muito maior do que realmente é.

escrito por
Luis Henrique Franco

Com uma boa história e um elenco estelar, Babilônia faz uma poderosa homenagem ao cinema, mas se perde em seu próprio ritmo frenético enquanto busca ser algo muito maior do que realmente é.

escrito por
Luis Henrique Franco
20/1/2023

Existem vários casos no cinema de diretores que apresentaram ao público uma boa ideia e uma narrativa interessante, mas se perderam em sua própria megalomania e, no processo de criar algo maior do que deveriam, perdem aquele clamor que antes conquistaram. E é irônico afirmar que isso ocorre no novo filme de Damien Chazelle, Babilônia, cujo próprio título já remete a algo exagerado, grandioso, maior do que deveria ser. Esse é um dos filmes que realmente necessita do exagero para contar sua história, mas por algum motivo perdeu a mão do que conseguia arcar.

A história é uma homenagem à história do cinema, apresentando um momento chave para a sua revolução: a transição do cinema mudo para os filmes falados. Abordando esse momento, Chazelle introduz seus personagens: o imigrante Manuel Torres (Diego Calva), que almeja se tornar alguém na indústria cinematográfica; a atriz aspirante Nellie LaRoy (Margot Robbie); e o ator veterano dos filmes mudos, Jack Conrad (Brad Pitt). Todos eles são arremessados como figuras centrais em meio a essas mudanças na trama, e cada um retrata a forma como tal revolução afetou os diferentes lados da indústria.

Manuel Torres acompanha a filmagem de um filme

Apesar de não ser novo, esse foco na passagem do cinema mudo para o falado é tratado no filme com um olhar um pouco menos glamoroso. Reconhecendo a importância e a mágica do momento, Chazelle não se deixa cegar para os impactos negativos da mudança, que levou inúmeros atores do cinema mudo a caírem em desgraça e ficarem desempregados por não conseguirem se adaptar à transição, papel expressado no filme principalmente por Brad Pitt. Assim, mesmo que não deixe de ser uma homenagem ao cinema e retratar a magia da indústria, Babilônia apresenta ao menos esse olhar mais realista sobre os impactos dessa mudança (um olhar que o diretor já havia demonstrado em La La Land). É um equilíbrio engraçado que o diretor alcança, entre uma homenagem às revoluções do cinema e uma quase nostalgia das origens dessa arte, o que permite ao público reconhecer os meandros da história e, ainda assim, se encantar com ela.

E em meio a essa homenagem ao cinema, mora também uma enorme homenagem à música e ao seu papel na história. Assumindo uma forma carnal na figura do personagem Sid Palmer (Jovan Adepo), a trilha sonora é essencial para o filme, definindo o tom de cada cena e construindo a realidade dos personagens. Ao som do trompete tocado por Palmer, as cenas e coreografias ganham vida extra, e ao ser colocada sob a perspectiva da história do cinema, tal trilha sonora ganha quase que o papel de protagonista do filme, com Chazelle fazendo uma devida homenagem aos músicos e ao som, o que com certeza deve lhe render o favoritismo em tais categorias nas premiações.

Sid Palmer toca para a apresentação de Lady Fay Zhu (Li JUn Li)

Ao mesmo tempo, existe uma visão bastante satírica sobre a sociedade da Los Angeles da época. O comportamento das estrelas é exagerado, com várias cenas de festas alucinadas que se transformam em verdadeiras orgias sodomitas regadas a álcool, sexo e drogas de todos os tipos, retratando uma vida completamente boêmia de uma maneira mais carnal e aparente do que outras homenagens do tipo retrataram antes. É também de onde o filme tira seu principal humor, visto que o diretor não tem interesse em algo sutil e trabalha quase que uma comédia pastelão e grotesca, na qual o riso vem justamente dos exageros e da falta de pudor das personagens. Não deixa também de ser uma crítica aguçada, visto que expõe o quão ridícula e perigosa essa vida desregrada podia ser.

Nellie LaRoy (Margot Robbie) dança loucamente em uma festa do estúdio

Nesse contexto de loucura, as figuras de Brad Pitt e Margot Robbie ganham o destaque condizente às duas maiores estrelas no filme. Ambos carregam muito bem essa mensagem que vai do cômico da farra desenfreada ao dramático da perda de papéis e de relevância na indústria. Essas transições apresentam desafios aos atores, e Pitt parece sofrer um pouco mais com isso. Seu personagem é carismático e possui uma história importante e chamativa no filme, mas a alternância de tons da narrativa parece muitas vezes pegar o ator despercebido. Mostrando-se capaz tanto pelo lado cômico quanto nos momentos mais dramáticos, Pitt, se perde um pouco na hora de mudar o tom de sua atuação, não o suficiente para comprometer seu papel, mas o suficiente para fazê-lo um pouco de seu brilho.

Jack Conrad (Centro) acompanha uma filmagem ao lado do diretor e do produtor George Munn (Lukas Haas)

A real estrela do filme, porém, é Margot Robbie, interpretando uma jovem atriz que alcançou imensa fama e reputação no cinema mudo com sua atitude farrista, rebelde e indisciplinada, sendo a alma das grandes festas promovidas no começo, mas que perdeu seu estrelato justamente por causa desses mesmos comportamentos na passagem para o cinema falado, caindo em um ciclo vicioso de drogas e baderna que a tornam "um problema" para o estúdio. A atuação de Robbie sempre rouba a cena e a tornam a protagonista do filme, comandando cada momento em que aparece e demonstrando toda a sua versatilidade, que em Babilônia vai desde a novata dançante e animada até uma mulher realmente transtornada pelos seus hábitos e alucinada pela perda de lugar na indústria com o passar dos anos. Demonstrando uma evolução de alegria jovial para desespero visceral, Robbie transmite os problemas da transição histórica para os atores do cinema mudo até melhor do que Pitt.

Nellie LaRoy caída no chão enquanto curte uma das festas do estúdio.

Com tudo isso a seu favor, Babilônia parece um enorme acerto para o diretor. Infelizmente, o filme se perde justamente no exagero de um de seus elementos centrais. Está no próprio título do filme: a sociedade retratada é exagerada, megalomaníaca, "babilônica", então faz sentido que o filme também seja assim. Por causa disso, o roteiro caótico é, em um primeiro momento, bem-vindo para realmente retratar as intenções do diretor. Mas o mesmo se deixa levar e cria um ritmo frenético que perdura durante tanto tempo no filme que faz o público se dispersar e ficar exausto tentando acompanhar tudo o que acontece. Alternando demais entre as narrativas dos diferentes personagens, Chazelle parece incerto de qual arco narrativo eles devem seguir, e a falta de clareza em momentos cruciais deixa o espectador à mercê do que conseguir captar, sem uma linha central à qual se prender em meio a esse tumulto.

Enquanto trabalha com a trama proposta, a megalomania transmite bem a sua mensagem. Mas à medida que o filme avança, o diretor parece tomado por uma soberba de achar que está falando mais do que realmente está, e em sua busca de transmitir algo cada vez maior e mais "profundo", ao mesmo tempo em que procura manter esse ritmo frenético, Babilônia perde o seu foco narrativo original e se perde em sua própria bagunça.

EXPECTATIVAS PARA O OSCAR

Prêmios indicados: Melhor Trilha Sonora Original, Melhor Figurino, Melhor Design de Produção

Com base na história contada pelo filme e na sua produção visando uma grandiosidade, além do fato de ser um filme de época voltado para uma reflexão sobre o próprio cinema, é surpreendente que Babilônia tenha angariado tão poucas indicações, e mais surpreendente ainda pelo fato de não ter alcançado nenhuma indicação nos prêmios de atores ou diretores. Talvez o furor caótico do filme e a confusão da narrativa tenham sido demais até para a Academia, ou talvez a mensagem de Chazelle não tenha agradado muito os membros votantes. Ele próprio disse que gostaria de fazer mais filmes polêmicos e divisivos, e podemos perceber o quão divisivo esse deve ter sido.

Deixando de lado os prêmios aos quais o filme não foi indicado, vamos focar em suas indicações de fato. E nesse quesito, Babilônia saiu com uma certa sorte, pois foi indicado nas categorias onde sua força se apresenta. O Figurino e o Design de Produção trabalham juntos na construção de uma ambientação perfeita para os Anos 20 e 30 onde o filme se passa. As roupas retratam o glamour das estrelas, referenciando grandes produções do passado e a moda recorrente da época e, ao mesmo tempo, dão espaço para o lado caótico ao apresentar roupagens mais ousadas e, em alguns momentos, ultrajantes até. Já o Design de Produção trabalha na construção da atmosfera, explorando desde os grandes sets de filmagem até as mansões e palácios da elite de Los Angeles, enriquecendo-se nos momentos de farra com construções que semeiam o caos e a desordem, mas também retratam a beleza artística.

O escritório da crítica de cinema que Conrad visita, mostrando um excesso interessante de elementos que enriquecem a época do filme.

É nessa mescla entre glamour e caos que o filme ostenta seu triunfo no figurino e no design de produção, peças fundamentais para construírem sua história (é um filme de época, afinal de contas) e que recebem a sua devida importância. Isso faz deles favoritos ao prêmio? É seguro dizer que os torna fortes competidores que podem trazer uma surpresa e complicar a vida dos indicados mais notórios.

Já a Trilha Sonora é onde Babilônia se destaca, e com seu foco na transição do cinema mudo para o falado, não poderia ser diferente. As músicas retratam a euforia do cinema nos primeiros anos em que o som foi incorporado ao filme, e presta necessária reverência aos músicos da época. A Trilha Sonora, assim, é um elemento vivo, que assume forma no trompete tocado por Jovan Adepo e que dá vida às cenas, mostrando a importância da música e fazendo belas referências aos gêneros dominantes na época. Tamanha referência ganha pontos com a Academia, mas sua belíssima execução e incorporação contínua no filme é o que garante seu favoritismo ao prêmio.

Jovan Adepo, que se tornou a personificação da Trilha Sonora no filme

No geral, Babilônia é um filme que tinha uma grande expectativa sobre si e não conseguiu angariar nem metade do que prometia, em boa parte porque entregou algo muito mais confuso e acelerado do que devia. Ainda assim, as indicações recebidas retratam os elementos que o filme manteve como seus pontos fortes. Então, as indicações podem não ser muitas, mas nenhuma delas soa como algo que o filme não mereceu.

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Babilônia

Babilônia

Direção: 
Criação:
Roteirista 1
Roteirista 2
Roteirista 3
Diretor 1
Diretor 2
Diretor 3
Elenco Principal:
Ator 1
Ator 2
Ator 3
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Com uma boa história e um elenco estelar, Babilônia faz uma poderosa homenagem ao cinema, mas se perde em seu próprio ritmo frenético enquanto busca ser algo muito maior do que realmente é.

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Luis Henrique Franco
20/1/2023

Existem vários casos no cinema de diretores que apresentaram ao público uma boa ideia e uma narrativa interessante, mas se perderam em sua própria megalomania e, no processo de criar algo maior do que deveriam, perdem aquele clamor que antes conquistaram. E é irônico afirmar que isso ocorre no novo filme de Damien Chazelle, Babilônia, cujo próprio título já remete a algo exagerado, grandioso, maior do que deveria ser. Esse é um dos filmes que realmente necessita do exagero para contar sua história, mas por algum motivo perdeu a mão do que conseguia arcar.

A história é uma homenagem à história do cinema, apresentando um momento chave para a sua revolução: a transição do cinema mudo para os filmes falados. Abordando esse momento, Chazelle introduz seus personagens: o imigrante Manuel Torres (Diego Calva), que almeja se tornar alguém na indústria cinematográfica; a atriz aspirante Nellie LaRoy (Margot Robbie); e o ator veterano dos filmes mudos, Jack Conrad (Brad Pitt). Todos eles são arremessados como figuras centrais em meio a essas mudanças na trama, e cada um retrata a forma como tal revolução afetou os diferentes lados da indústria.

Manuel Torres acompanha a filmagem de um filme

Apesar de não ser novo, esse foco na passagem do cinema mudo para o falado é tratado no filme com um olhar um pouco menos glamoroso. Reconhecendo a importância e a mágica do momento, Chazelle não se deixa cegar para os impactos negativos da mudança, que levou inúmeros atores do cinema mudo a caírem em desgraça e ficarem desempregados por não conseguirem se adaptar à transição, papel expressado no filme principalmente por Brad Pitt. Assim, mesmo que não deixe de ser uma homenagem ao cinema e retratar a magia da indústria, Babilônia apresenta ao menos esse olhar mais realista sobre os impactos dessa mudança (um olhar que o diretor já havia demonstrado em La La Land). É um equilíbrio engraçado que o diretor alcança, entre uma homenagem às revoluções do cinema e uma quase nostalgia das origens dessa arte, o que permite ao público reconhecer os meandros da história e, ainda assim, se encantar com ela.

E em meio a essa homenagem ao cinema, mora também uma enorme homenagem à música e ao seu papel na história. Assumindo uma forma carnal na figura do personagem Sid Palmer (Jovan Adepo), a trilha sonora é essencial para o filme, definindo o tom de cada cena e construindo a realidade dos personagens. Ao som do trompete tocado por Palmer, as cenas e coreografias ganham vida extra, e ao ser colocada sob a perspectiva da história do cinema, tal trilha sonora ganha quase que o papel de protagonista do filme, com Chazelle fazendo uma devida homenagem aos músicos e ao som, o que com certeza deve lhe render o favoritismo em tais categorias nas premiações.

Sid Palmer toca para a apresentação de Lady Fay Zhu (Li JUn Li)

Ao mesmo tempo, existe uma visão bastante satírica sobre a sociedade da Los Angeles da época. O comportamento das estrelas é exagerado, com várias cenas de festas alucinadas que se transformam em verdadeiras orgias sodomitas regadas a álcool, sexo e drogas de todos os tipos, retratando uma vida completamente boêmia de uma maneira mais carnal e aparente do que outras homenagens do tipo retrataram antes. É também de onde o filme tira seu principal humor, visto que o diretor não tem interesse em algo sutil e trabalha quase que uma comédia pastelão e grotesca, na qual o riso vem justamente dos exageros e da falta de pudor das personagens. Não deixa também de ser uma crítica aguçada, visto que expõe o quão ridícula e perigosa essa vida desregrada podia ser.

Nellie LaRoy (Margot Robbie) dança loucamente em uma festa do estúdio

Nesse contexto de loucura, as figuras de Brad Pitt e Margot Robbie ganham o destaque condizente às duas maiores estrelas no filme. Ambos carregam muito bem essa mensagem que vai do cômico da farra desenfreada ao dramático da perda de papéis e de relevância na indústria. Essas transições apresentam desafios aos atores, e Pitt parece sofrer um pouco mais com isso. Seu personagem é carismático e possui uma história importante e chamativa no filme, mas a alternância de tons da narrativa parece muitas vezes pegar o ator despercebido. Mostrando-se capaz tanto pelo lado cômico quanto nos momentos mais dramáticos, Pitt, se perde um pouco na hora de mudar o tom de sua atuação, não o suficiente para comprometer seu papel, mas o suficiente para fazê-lo um pouco de seu brilho.

Jack Conrad (Centro) acompanha uma filmagem ao lado do diretor e do produtor George Munn (Lukas Haas)

A real estrela do filme, porém, é Margot Robbie, interpretando uma jovem atriz que alcançou imensa fama e reputação no cinema mudo com sua atitude farrista, rebelde e indisciplinada, sendo a alma das grandes festas promovidas no começo, mas que perdeu seu estrelato justamente por causa desses mesmos comportamentos na passagem para o cinema falado, caindo em um ciclo vicioso de drogas e baderna que a tornam "um problema" para o estúdio. A atuação de Robbie sempre rouba a cena e a tornam a protagonista do filme, comandando cada momento em que aparece e demonstrando toda a sua versatilidade, que em Babilônia vai desde a novata dançante e animada até uma mulher realmente transtornada pelos seus hábitos e alucinada pela perda de lugar na indústria com o passar dos anos. Demonstrando uma evolução de alegria jovial para desespero visceral, Robbie transmite os problemas da transição histórica para os atores do cinema mudo até melhor do que Pitt.

Nellie LaRoy caída no chão enquanto curte uma das festas do estúdio.

Com tudo isso a seu favor, Babilônia parece um enorme acerto para o diretor. Infelizmente, o filme se perde justamente no exagero de um de seus elementos centrais. Está no próprio título do filme: a sociedade retratada é exagerada, megalomaníaca, "babilônica", então faz sentido que o filme também seja assim. Por causa disso, o roteiro caótico é, em um primeiro momento, bem-vindo para realmente retratar as intenções do diretor. Mas o mesmo se deixa levar e cria um ritmo frenético que perdura durante tanto tempo no filme que faz o público se dispersar e ficar exausto tentando acompanhar tudo o que acontece. Alternando demais entre as narrativas dos diferentes personagens, Chazelle parece incerto de qual arco narrativo eles devem seguir, e a falta de clareza em momentos cruciais deixa o espectador à mercê do que conseguir captar, sem uma linha central à qual se prender em meio a esse tumulto.

Enquanto trabalha com a trama proposta, a megalomania transmite bem a sua mensagem. Mas à medida que o filme avança, o diretor parece tomado por uma soberba de achar que está falando mais do que realmente está, e em sua busca de transmitir algo cada vez maior e mais "profundo", ao mesmo tempo em que procura manter esse ritmo frenético, Babilônia perde o seu foco narrativo original e se perde em sua própria bagunça.

EXPECTATIVAS PARA O OSCAR

Prêmios indicados: Melhor Trilha Sonora Original, Melhor Figurino, Melhor Design de Produção

Com base na história contada pelo filme e na sua produção visando uma grandiosidade, além do fato de ser um filme de época voltado para uma reflexão sobre o próprio cinema, é surpreendente que Babilônia tenha angariado tão poucas indicações, e mais surpreendente ainda pelo fato de não ter alcançado nenhuma indicação nos prêmios de atores ou diretores. Talvez o furor caótico do filme e a confusão da narrativa tenham sido demais até para a Academia, ou talvez a mensagem de Chazelle não tenha agradado muito os membros votantes. Ele próprio disse que gostaria de fazer mais filmes polêmicos e divisivos, e podemos perceber o quão divisivo esse deve ter sido.

Deixando de lado os prêmios aos quais o filme não foi indicado, vamos focar em suas indicações de fato. E nesse quesito, Babilônia saiu com uma certa sorte, pois foi indicado nas categorias onde sua força se apresenta. O Figurino e o Design de Produção trabalham juntos na construção de uma ambientação perfeita para os Anos 20 e 30 onde o filme se passa. As roupas retratam o glamour das estrelas, referenciando grandes produções do passado e a moda recorrente da época e, ao mesmo tempo, dão espaço para o lado caótico ao apresentar roupagens mais ousadas e, em alguns momentos, ultrajantes até. Já o Design de Produção trabalha na construção da atmosfera, explorando desde os grandes sets de filmagem até as mansões e palácios da elite de Los Angeles, enriquecendo-se nos momentos de farra com construções que semeiam o caos e a desordem, mas também retratam a beleza artística.

O escritório da crítica de cinema que Conrad visita, mostrando um excesso interessante de elementos que enriquecem a época do filme.

É nessa mescla entre glamour e caos que o filme ostenta seu triunfo no figurino e no design de produção, peças fundamentais para construírem sua história (é um filme de época, afinal de contas) e que recebem a sua devida importância. Isso faz deles favoritos ao prêmio? É seguro dizer que os torna fortes competidores que podem trazer uma surpresa e complicar a vida dos indicados mais notórios.

Já a Trilha Sonora é onde Babilônia se destaca, e com seu foco na transição do cinema mudo para o falado, não poderia ser diferente. As músicas retratam a euforia do cinema nos primeiros anos em que o som foi incorporado ao filme, e presta necessária reverência aos músicos da época. A Trilha Sonora, assim, é um elemento vivo, que assume forma no trompete tocado por Jovan Adepo e que dá vida às cenas, mostrando a importância da música e fazendo belas referências aos gêneros dominantes na época. Tamanha referência ganha pontos com a Academia, mas sua belíssima execução e incorporação contínua no filme é o que garante seu favoritismo ao prêmio.

Jovan Adepo, que se tornou a personificação da Trilha Sonora no filme

No geral, Babilônia é um filme que tinha uma grande expectativa sobre si e não conseguiu angariar nem metade do que prometia, em boa parte porque entregou algo muito mais confuso e acelerado do que devia. Ainda assim, as indicações recebidas retratam os elementos que o filme manteve como seus pontos fortes. Então, as indicações podem não ser muitas, mas nenhuma delas soa como algo que o filme não mereceu.

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Crítica

Com uma boa história e um elenco estelar, Babilônia faz uma poderosa homenagem ao cinema, mas se perde em seu próprio ritmo frenético enquanto busca ser algo muito maior do que realmente é.

escrito por
Luis Henrique Franco
20/1/2023
nascimento

Com uma boa história e um elenco estelar, Babilônia faz uma poderosa homenagem ao cinema, mas se perde em seu próprio ritmo frenético enquanto busca ser algo muito maior do que realmente é.

escrito por
Luis Henrique Franco
20/1/2023

Existem vários casos no cinema de diretores que apresentaram ao público uma boa ideia e uma narrativa interessante, mas se perderam em sua própria megalomania e, no processo de criar algo maior do que deveriam, perdem aquele clamor que antes conquistaram. E é irônico afirmar que isso ocorre no novo filme de Damien Chazelle, Babilônia, cujo próprio título já remete a algo exagerado, grandioso, maior do que deveria ser. Esse é um dos filmes que realmente necessita do exagero para contar sua história, mas por algum motivo perdeu a mão do que conseguia arcar.

A história é uma homenagem à história do cinema, apresentando um momento chave para a sua revolução: a transição do cinema mudo para os filmes falados. Abordando esse momento, Chazelle introduz seus personagens: o imigrante Manuel Torres (Diego Calva), que almeja se tornar alguém na indústria cinematográfica; a atriz aspirante Nellie LaRoy (Margot Robbie); e o ator veterano dos filmes mudos, Jack Conrad (Brad Pitt). Todos eles são arremessados como figuras centrais em meio a essas mudanças na trama, e cada um retrata a forma como tal revolução afetou os diferentes lados da indústria.

Manuel Torres acompanha a filmagem de um filme

Apesar de não ser novo, esse foco na passagem do cinema mudo para o falado é tratado no filme com um olhar um pouco menos glamoroso. Reconhecendo a importância e a mágica do momento, Chazelle não se deixa cegar para os impactos negativos da mudança, que levou inúmeros atores do cinema mudo a caírem em desgraça e ficarem desempregados por não conseguirem se adaptar à transição, papel expressado no filme principalmente por Brad Pitt. Assim, mesmo que não deixe de ser uma homenagem ao cinema e retratar a magia da indústria, Babilônia apresenta ao menos esse olhar mais realista sobre os impactos dessa mudança (um olhar que o diretor já havia demonstrado em La La Land). É um equilíbrio engraçado que o diretor alcança, entre uma homenagem às revoluções do cinema e uma quase nostalgia das origens dessa arte, o que permite ao público reconhecer os meandros da história e, ainda assim, se encantar com ela.

E em meio a essa homenagem ao cinema, mora também uma enorme homenagem à música e ao seu papel na história. Assumindo uma forma carnal na figura do personagem Sid Palmer (Jovan Adepo), a trilha sonora é essencial para o filme, definindo o tom de cada cena e construindo a realidade dos personagens. Ao som do trompete tocado por Palmer, as cenas e coreografias ganham vida extra, e ao ser colocada sob a perspectiva da história do cinema, tal trilha sonora ganha quase que o papel de protagonista do filme, com Chazelle fazendo uma devida homenagem aos músicos e ao som, o que com certeza deve lhe render o favoritismo em tais categorias nas premiações.

Sid Palmer toca para a apresentação de Lady Fay Zhu (Li JUn Li)

Ao mesmo tempo, existe uma visão bastante satírica sobre a sociedade da Los Angeles da época. O comportamento das estrelas é exagerado, com várias cenas de festas alucinadas que se transformam em verdadeiras orgias sodomitas regadas a álcool, sexo e drogas de todos os tipos, retratando uma vida completamente boêmia de uma maneira mais carnal e aparente do que outras homenagens do tipo retrataram antes. É também de onde o filme tira seu principal humor, visto que o diretor não tem interesse em algo sutil e trabalha quase que uma comédia pastelão e grotesca, na qual o riso vem justamente dos exageros e da falta de pudor das personagens. Não deixa também de ser uma crítica aguçada, visto que expõe o quão ridícula e perigosa essa vida desregrada podia ser.

Nellie LaRoy (Margot Robbie) dança loucamente em uma festa do estúdio

Nesse contexto de loucura, as figuras de Brad Pitt e Margot Robbie ganham o destaque condizente às duas maiores estrelas no filme. Ambos carregam muito bem essa mensagem que vai do cômico da farra desenfreada ao dramático da perda de papéis e de relevância na indústria. Essas transições apresentam desafios aos atores, e Pitt parece sofrer um pouco mais com isso. Seu personagem é carismático e possui uma história importante e chamativa no filme, mas a alternância de tons da narrativa parece muitas vezes pegar o ator despercebido. Mostrando-se capaz tanto pelo lado cômico quanto nos momentos mais dramáticos, Pitt, se perde um pouco na hora de mudar o tom de sua atuação, não o suficiente para comprometer seu papel, mas o suficiente para fazê-lo um pouco de seu brilho.

Jack Conrad (Centro) acompanha uma filmagem ao lado do diretor e do produtor George Munn (Lukas Haas)

A real estrela do filme, porém, é Margot Robbie, interpretando uma jovem atriz que alcançou imensa fama e reputação no cinema mudo com sua atitude farrista, rebelde e indisciplinada, sendo a alma das grandes festas promovidas no começo, mas que perdeu seu estrelato justamente por causa desses mesmos comportamentos na passagem para o cinema falado, caindo em um ciclo vicioso de drogas e baderna que a tornam "um problema" para o estúdio. A atuação de Robbie sempre rouba a cena e a tornam a protagonista do filme, comandando cada momento em que aparece e demonstrando toda a sua versatilidade, que em Babilônia vai desde a novata dançante e animada até uma mulher realmente transtornada pelos seus hábitos e alucinada pela perda de lugar na indústria com o passar dos anos. Demonstrando uma evolução de alegria jovial para desespero visceral, Robbie transmite os problemas da transição histórica para os atores do cinema mudo até melhor do que Pitt.

Nellie LaRoy caída no chão enquanto curte uma das festas do estúdio.

Com tudo isso a seu favor, Babilônia parece um enorme acerto para o diretor. Infelizmente, o filme se perde justamente no exagero de um de seus elementos centrais. Está no próprio título do filme: a sociedade retratada é exagerada, megalomaníaca, "babilônica", então faz sentido que o filme também seja assim. Por causa disso, o roteiro caótico é, em um primeiro momento, bem-vindo para realmente retratar as intenções do diretor. Mas o mesmo se deixa levar e cria um ritmo frenético que perdura durante tanto tempo no filme que faz o público se dispersar e ficar exausto tentando acompanhar tudo o que acontece. Alternando demais entre as narrativas dos diferentes personagens, Chazelle parece incerto de qual arco narrativo eles devem seguir, e a falta de clareza em momentos cruciais deixa o espectador à mercê do que conseguir captar, sem uma linha central à qual se prender em meio a esse tumulto.

Enquanto trabalha com a trama proposta, a megalomania transmite bem a sua mensagem. Mas à medida que o filme avança, o diretor parece tomado por uma soberba de achar que está falando mais do que realmente está, e em sua busca de transmitir algo cada vez maior e mais "profundo", ao mesmo tempo em que procura manter esse ritmo frenético, Babilônia perde o seu foco narrativo original e se perde em sua própria bagunça.

EXPECTATIVAS PARA O OSCAR

Prêmios indicados: Melhor Trilha Sonora Original, Melhor Figurino, Melhor Design de Produção

Com base na história contada pelo filme e na sua produção visando uma grandiosidade, além do fato de ser um filme de época voltado para uma reflexão sobre o próprio cinema, é surpreendente que Babilônia tenha angariado tão poucas indicações, e mais surpreendente ainda pelo fato de não ter alcançado nenhuma indicação nos prêmios de atores ou diretores. Talvez o furor caótico do filme e a confusão da narrativa tenham sido demais até para a Academia, ou talvez a mensagem de Chazelle não tenha agradado muito os membros votantes. Ele próprio disse que gostaria de fazer mais filmes polêmicos e divisivos, e podemos perceber o quão divisivo esse deve ter sido.

Deixando de lado os prêmios aos quais o filme não foi indicado, vamos focar em suas indicações de fato. E nesse quesito, Babilônia saiu com uma certa sorte, pois foi indicado nas categorias onde sua força se apresenta. O Figurino e o Design de Produção trabalham juntos na construção de uma ambientação perfeita para os Anos 20 e 30 onde o filme se passa. As roupas retratam o glamour das estrelas, referenciando grandes produções do passado e a moda recorrente da época e, ao mesmo tempo, dão espaço para o lado caótico ao apresentar roupagens mais ousadas e, em alguns momentos, ultrajantes até. Já o Design de Produção trabalha na construção da atmosfera, explorando desde os grandes sets de filmagem até as mansões e palácios da elite de Los Angeles, enriquecendo-se nos momentos de farra com construções que semeiam o caos e a desordem, mas também retratam a beleza artística.

O escritório da crítica de cinema que Conrad visita, mostrando um excesso interessante de elementos que enriquecem a época do filme.

É nessa mescla entre glamour e caos que o filme ostenta seu triunfo no figurino e no design de produção, peças fundamentais para construírem sua história (é um filme de época, afinal de contas) e que recebem a sua devida importância. Isso faz deles favoritos ao prêmio? É seguro dizer que os torna fortes competidores que podem trazer uma surpresa e complicar a vida dos indicados mais notórios.

Já a Trilha Sonora é onde Babilônia se destaca, e com seu foco na transição do cinema mudo para o falado, não poderia ser diferente. As músicas retratam a euforia do cinema nos primeiros anos em que o som foi incorporado ao filme, e presta necessária reverência aos músicos da época. A Trilha Sonora, assim, é um elemento vivo, que assume forma no trompete tocado por Jovan Adepo e que dá vida às cenas, mostrando a importância da música e fazendo belas referências aos gêneros dominantes na época. Tamanha referência ganha pontos com a Academia, mas sua belíssima execução e incorporação contínua no filme é o que garante seu favoritismo ao prêmio.

Jovan Adepo, que se tornou a personificação da Trilha Sonora no filme

No geral, Babilônia é um filme que tinha uma grande expectativa sobre si e não conseguiu angariar nem metade do que prometia, em boa parte porque entregou algo muito mais confuso e acelerado do que devia. Ainda assim, as indicações recebidas retratam os elementos que o filme manteve como seus pontos fortes. Então, as indicações podem não ser muitas, mas nenhuma delas soa como algo que o filme não mereceu.

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