Crítica

Crítica

Crítica: Becky

26/2/2021

"Becky" é um filme que explora bem a tensão de sua situação e a violência que ela desencadeia para mostrar uma protagonista problemática e, ainda assim, interessante.

escrito por
Luis Henrique Franco

"Becky" é um filme que explora bem a tensão de sua situação e a violência que ela desencadeia para mostrar uma protagonista problemática e, ainda assim, interessante.

escrito por
Luis Henrique Franco
26/2/2021

Quando Becky chegou aos cinemas pela primeira vez e começou a ser comentado, muitos críticos o classificaram como "Esqueceram de Mim para adultos". Mas, apesar de algumas poucas similaridades, esse filme passa longe do clássico estrelado por Macaulay Culkin. Para além de explorar um lado mais violento e menos pastelão, o filme também explora alguns temas e conteúdos que a comédia dos anos 90 não se dedicou, e nem poderia se dedicar, a explorar.

A trama é centrada na garotinha Becky, uma adolescente teimosa e agressiva que sofre de luto pela perda de sua mãe. Levada para a casa no lago de sua antiga família, ela não consegue aceitar o relacionamento de seu pai (Joel McHale) com uma nova mulher (Amanda Brugel) e se afasta de todos. Contudo, quando um grupo de criminosos nazistas fugindo da prisão chegam à casa e fazem a família de refém, Becky precisa se valer de um conjunto limitado de recursos e muito planejamento e criatividade para lidar com os invasores.

A trama do filme procura trabalhar esse foco duplo de tensão, mostrando tanto a garotinha sozinha na floresta e precisando lutar para escapar de seus perseguidores quanto a situação na casa, onde a família é mantida sob o olhar vigilante de Dominick (Kevin James) e seus capangas. E o longa não demora para mostrar a crueldade de seus vilões, provocando o ódio do público contra eles ao mesmo tempo em que os eleva a uma ameaça séria. Seria um caminho bastante simples e decepcionante usar esses sentimentos negativos para com os vilões para elevar Becky ao status de heroína. Mas o filme, felizmente, escapa a isso.

A princípio, a construção dos conflitos entre a adolescente e os criminosos se dá como uma necessidade de sobrevivência. Desarmada e com apenas materiais escolares e algumas bugigangas, Becky demonstra extrema inteligência para lidar com inimigos que cometem o erro de subestimá-la. Contudo, à medida em que a tensão cresce, o filme lança um novo olhar sobre sua protagonista, problematizando as suas ações e as tratando não mais apenas como medidas de sobrevivência. Becky não hesita em praticar atos horríveis e, em certos pontos, parece inclusive apreciá-los. Só isso já é o bastante para virar o olhar dos espectadores a respeito dela.

Mesmo se tratando de um clichê (a adolescente revoltada acaba sendo uma pequena psicopata), é a maneira como o filme explora esse clichê que o torna interessante. Ao demonstrar esses aspectos questionáveis em uma situação de vida e morte, a protagonista divide as opiniões do público, que continua a apoiá-la ao mesmo tempo em que se espanta com os extremos a que ela recorre. Longe de ser uma das grandes atuações de uma atriz infantil, Lulu Wilson faz um bom trabalho para criar uma personagem que alterna constantemente entre alguém digno do apoio do espectador e uma assassina vingativa que extrai certo prazer do que faz.

E o filme também não impõe limites para a violência que quer mostrar. Becky se destaca pelo seu aspecto quase gore, não apenas naquilo que mostra em cena, como também no uso de momentos de tortura, por vezes prolongados, e na busca por saídas extremamente sádicas por parte de seus personagens. Já mencionei a problemática da protagonista, mas o vilão de Kevin James não fica muito atrás. Como um homem que pretende conquistar o que quer da maneira que for preciso, Dominick busca o diálogo por diversas vezes, valendo-se de seus argumentos e sua presença ameaçadora para controlar a família. Contudo, o vilão não é estranho ao uso da violência e, desses momentos de conversa, parte imediatamente para a tortura generalizada.

Para um ator famoso por comédias pastelões e papéis ridículos, Kevin James realmente é uma agradável surpresa nesse filme, deixando de lado sua natureza mais cômica e se tornando um personagem realmente ameaçador. Como seu parceiro de comédias Adam Sandler em Jóias Brutas, James mostra que possui mais potencial como ator, e seria interessante vê-lo explorar essas novas probabilidades no futuro.

Outro destaque interessante é o personagem do ator Robert Maillet. Conhecido por seu tamanho, força e aparência assustadora, Maillet sempre se entregou mais a papéis pequenos, sendo normalmente aquele típico capanga musculoso com uma ou duas sequências de enfrentamento com os mocinhos por filme. Em Becky, apesar de não ter uma grande capacidade de atuação e de seu personagem ainda assim ser um pouco batido, ao menos foi lhe dado um pouco mais de profundidade, construindo um vilão que mostra um lado mais humano com seus sentimentos de culpa e dilemas morais que vão crescendo ao longo da trama.

No geral, Becky não é um filme surpreendente ou extremamente marcante. Seus pontos mais fortes são a tensão de sua narrativa e o uso da violência, o que pode ser exatamente aquilo que afastaria a maioria do público. Ainda assim, é bem realizado dentro de sua proposta e apresenta uma seriedade marcante em seus temas, escondida por baixo de toda essa brutalidade. Para aqueles que não se importam com cenas gore e sádicas, e principalmente para aqueles que estejam procurando um longa desse tipo, é uma produção interessante e bem realizada.

Tendo sido lançado em 2020, Becky chega dia 27 de fevereiro na Sessão Superestreia do Telecine Premium, às 22 horas. Confira!

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Becky

Becky

Direção: 
Criação:
Roteirista 1
Roteirista 2
Roteirista 3
Diretor 1
Diretor 2
Diretor 3
Elenco Principal:
Ator 1
Ator 2
Ator 3
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"Becky" é um filme que explora bem a tensão de sua situação e a violência que ela desencadeia para mostrar uma protagonista problemática e, ainda assim, interessante.

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Luis Henrique Franco
26/2/2021

Quando Becky chegou aos cinemas pela primeira vez e começou a ser comentado, muitos críticos o classificaram como "Esqueceram de Mim para adultos". Mas, apesar de algumas poucas similaridades, esse filme passa longe do clássico estrelado por Macaulay Culkin. Para além de explorar um lado mais violento e menos pastelão, o filme também explora alguns temas e conteúdos que a comédia dos anos 90 não se dedicou, e nem poderia se dedicar, a explorar.

A trama é centrada na garotinha Becky, uma adolescente teimosa e agressiva que sofre de luto pela perda de sua mãe. Levada para a casa no lago de sua antiga família, ela não consegue aceitar o relacionamento de seu pai (Joel McHale) com uma nova mulher (Amanda Brugel) e se afasta de todos. Contudo, quando um grupo de criminosos nazistas fugindo da prisão chegam à casa e fazem a família de refém, Becky precisa se valer de um conjunto limitado de recursos e muito planejamento e criatividade para lidar com os invasores.

A trama do filme procura trabalhar esse foco duplo de tensão, mostrando tanto a garotinha sozinha na floresta e precisando lutar para escapar de seus perseguidores quanto a situação na casa, onde a família é mantida sob o olhar vigilante de Dominick (Kevin James) e seus capangas. E o longa não demora para mostrar a crueldade de seus vilões, provocando o ódio do público contra eles ao mesmo tempo em que os eleva a uma ameaça séria. Seria um caminho bastante simples e decepcionante usar esses sentimentos negativos para com os vilões para elevar Becky ao status de heroína. Mas o filme, felizmente, escapa a isso.

A princípio, a construção dos conflitos entre a adolescente e os criminosos se dá como uma necessidade de sobrevivência. Desarmada e com apenas materiais escolares e algumas bugigangas, Becky demonstra extrema inteligência para lidar com inimigos que cometem o erro de subestimá-la. Contudo, à medida em que a tensão cresce, o filme lança um novo olhar sobre sua protagonista, problematizando as suas ações e as tratando não mais apenas como medidas de sobrevivência. Becky não hesita em praticar atos horríveis e, em certos pontos, parece inclusive apreciá-los. Só isso já é o bastante para virar o olhar dos espectadores a respeito dela.

Mesmo se tratando de um clichê (a adolescente revoltada acaba sendo uma pequena psicopata), é a maneira como o filme explora esse clichê que o torna interessante. Ao demonstrar esses aspectos questionáveis em uma situação de vida e morte, a protagonista divide as opiniões do público, que continua a apoiá-la ao mesmo tempo em que se espanta com os extremos a que ela recorre. Longe de ser uma das grandes atuações de uma atriz infantil, Lulu Wilson faz um bom trabalho para criar uma personagem que alterna constantemente entre alguém digno do apoio do espectador e uma assassina vingativa que extrai certo prazer do que faz.

E o filme também não impõe limites para a violência que quer mostrar. Becky se destaca pelo seu aspecto quase gore, não apenas naquilo que mostra em cena, como também no uso de momentos de tortura, por vezes prolongados, e na busca por saídas extremamente sádicas por parte de seus personagens. Já mencionei a problemática da protagonista, mas o vilão de Kevin James não fica muito atrás. Como um homem que pretende conquistar o que quer da maneira que for preciso, Dominick busca o diálogo por diversas vezes, valendo-se de seus argumentos e sua presença ameaçadora para controlar a família. Contudo, o vilão não é estranho ao uso da violência e, desses momentos de conversa, parte imediatamente para a tortura generalizada.

Para um ator famoso por comédias pastelões e papéis ridículos, Kevin James realmente é uma agradável surpresa nesse filme, deixando de lado sua natureza mais cômica e se tornando um personagem realmente ameaçador. Como seu parceiro de comédias Adam Sandler em Jóias Brutas, James mostra que possui mais potencial como ator, e seria interessante vê-lo explorar essas novas probabilidades no futuro.

Outro destaque interessante é o personagem do ator Robert Maillet. Conhecido por seu tamanho, força e aparência assustadora, Maillet sempre se entregou mais a papéis pequenos, sendo normalmente aquele típico capanga musculoso com uma ou duas sequências de enfrentamento com os mocinhos por filme. Em Becky, apesar de não ter uma grande capacidade de atuação e de seu personagem ainda assim ser um pouco batido, ao menos foi lhe dado um pouco mais de profundidade, construindo um vilão que mostra um lado mais humano com seus sentimentos de culpa e dilemas morais que vão crescendo ao longo da trama.

No geral, Becky não é um filme surpreendente ou extremamente marcante. Seus pontos mais fortes são a tensão de sua narrativa e o uso da violência, o que pode ser exatamente aquilo que afastaria a maioria do público. Ainda assim, é bem realizado dentro de sua proposta e apresenta uma seriedade marcante em seus temas, escondida por baixo de toda essa brutalidade. Para aqueles que não se importam com cenas gore e sádicas, e principalmente para aqueles que estejam procurando um longa desse tipo, é uma produção interessante e bem realizada.

Tendo sido lançado em 2020, Becky chega dia 27 de fevereiro na Sessão Superestreia do Telecine Premium, às 22 horas. Confira!

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"Becky" é um filme que explora bem a tensão de sua situação e a violência que ela desencadeia para mostrar uma protagonista problemática e, ainda assim, interessante.

escrito por
Luis Henrique Franco
26/2/2021
nascimento

"Becky" é um filme que explora bem a tensão de sua situação e a violência que ela desencadeia para mostrar uma protagonista problemática e, ainda assim, interessante.

escrito por
Luis Henrique Franco
26/2/2021

Quando Becky chegou aos cinemas pela primeira vez e começou a ser comentado, muitos críticos o classificaram como "Esqueceram de Mim para adultos". Mas, apesar de algumas poucas similaridades, esse filme passa longe do clássico estrelado por Macaulay Culkin. Para além de explorar um lado mais violento e menos pastelão, o filme também explora alguns temas e conteúdos que a comédia dos anos 90 não se dedicou, e nem poderia se dedicar, a explorar.

A trama é centrada na garotinha Becky, uma adolescente teimosa e agressiva que sofre de luto pela perda de sua mãe. Levada para a casa no lago de sua antiga família, ela não consegue aceitar o relacionamento de seu pai (Joel McHale) com uma nova mulher (Amanda Brugel) e se afasta de todos. Contudo, quando um grupo de criminosos nazistas fugindo da prisão chegam à casa e fazem a família de refém, Becky precisa se valer de um conjunto limitado de recursos e muito planejamento e criatividade para lidar com os invasores.

A trama do filme procura trabalhar esse foco duplo de tensão, mostrando tanto a garotinha sozinha na floresta e precisando lutar para escapar de seus perseguidores quanto a situação na casa, onde a família é mantida sob o olhar vigilante de Dominick (Kevin James) e seus capangas. E o longa não demora para mostrar a crueldade de seus vilões, provocando o ódio do público contra eles ao mesmo tempo em que os eleva a uma ameaça séria. Seria um caminho bastante simples e decepcionante usar esses sentimentos negativos para com os vilões para elevar Becky ao status de heroína. Mas o filme, felizmente, escapa a isso.

A princípio, a construção dos conflitos entre a adolescente e os criminosos se dá como uma necessidade de sobrevivência. Desarmada e com apenas materiais escolares e algumas bugigangas, Becky demonstra extrema inteligência para lidar com inimigos que cometem o erro de subestimá-la. Contudo, à medida em que a tensão cresce, o filme lança um novo olhar sobre sua protagonista, problematizando as suas ações e as tratando não mais apenas como medidas de sobrevivência. Becky não hesita em praticar atos horríveis e, em certos pontos, parece inclusive apreciá-los. Só isso já é o bastante para virar o olhar dos espectadores a respeito dela.

Mesmo se tratando de um clichê (a adolescente revoltada acaba sendo uma pequena psicopata), é a maneira como o filme explora esse clichê que o torna interessante. Ao demonstrar esses aspectos questionáveis em uma situação de vida e morte, a protagonista divide as opiniões do público, que continua a apoiá-la ao mesmo tempo em que se espanta com os extremos a que ela recorre. Longe de ser uma das grandes atuações de uma atriz infantil, Lulu Wilson faz um bom trabalho para criar uma personagem que alterna constantemente entre alguém digno do apoio do espectador e uma assassina vingativa que extrai certo prazer do que faz.

E o filme também não impõe limites para a violência que quer mostrar. Becky se destaca pelo seu aspecto quase gore, não apenas naquilo que mostra em cena, como também no uso de momentos de tortura, por vezes prolongados, e na busca por saídas extremamente sádicas por parte de seus personagens. Já mencionei a problemática da protagonista, mas o vilão de Kevin James não fica muito atrás. Como um homem que pretende conquistar o que quer da maneira que for preciso, Dominick busca o diálogo por diversas vezes, valendo-se de seus argumentos e sua presença ameaçadora para controlar a família. Contudo, o vilão não é estranho ao uso da violência e, desses momentos de conversa, parte imediatamente para a tortura generalizada.

Para um ator famoso por comédias pastelões e papéis ridículos, Kevin James realmente é uma agradável surpresa nesse filme, deixando de lado sua natureza mais cômica e se tornando um personagem realmente ameaçador. Como seu parceiro de comédias Adam Sandler em Jóias Brutas, James mostra que possui mais potencial como ator, e seria interessante vê-lo explorar essas novas probabilidades no futuro.

Outro destaque interessante é o personagem do ator Robert Maillet. Conhecido por seu tamanho, força e aparência assustadora, Maillet sempre se entregou mais a papéis pequenos, sendo normalmente aquele típico capanga musculoso com uma ou duas sequências de enfrentamento com os mocinhos por filme. Em Becky, apesar de não ter uma grande capacidade de atuação e de seu personagem ainda assim ser um pouco batido, ao menos foi lhe dado um pouco mais de profundidade, construindo um vilão que mostra um lado mais humano com seus sentimentos de culpa e dilemas morais que vão crescendo ao longo da trama.

No geral, Becky não é um filme surpreendente ou extremamente marcante. Seus pontos mais fortes são a tensão de sua narrativa e o uso da violência, o que pode ser exatamente aquilo que afastaria a maioria do público. Ainda assim, é bem realizado dentro de sua proposta e apresenta uma seriedade marcante em seus temas, escondida por baixo de toda essa brutalidade. Para aqueles que não se importam com cenas gore e sádicas, e principalmente para aqueles que estejam procurando um longa desse tipo, é uma produção interessante e bem realizada.

Tendo sido lançado em 2020, Becky chega dia 27 de fevereiro na Sessão Superestreia do Telecine Premium, às 22 horas. Confira!

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