Crítica

Crítica

Marighella: o terrível e provocante retrato do Brasil

5/11/2021

Sabendo da polêmica de seu assunto, Marighella assume definitivamente um lado e retrata um ponto de vista que não tem a intenção de agradar, mas de provocar o debate e forçar o público a pensar a história de seu país, seu passado e seu presente.

escrito por
Luis Henrique Franco

Sabendo da polêmica de seu assunto, Marighella assume definitivamente um lado e retrata um ponto de vista que não tem a intenção de agradar, mas de provocar o debate e forçar o público a pensar a história de seu país, seu passado e seu presente.

escrito por
Luis Henrique Franco
5/11/2021

O grande problema dos filmes claramente políticos é que, por tratarem seus temas a partir de pontos de vista extremamente fortes e bem definidos, eles tendem a afastar uma parte do público que não concorda com tal ponto de vista. Marighella é exatamente esse tipo de filme, e não se envergonha de o ser. Com opiniões fortes e críticas extremamente pesadas contra a sociedade, este é um filme cujo teor político com certeza afastará pessoas que discordem dele.

Retratando o período da Ditadura Militar no Brasil, em especial o final dos anos 60 e a entrada dos chamados “Anos de Chumbo”, o filme do diretor Wagner Moura explora a vida e a luta de Carlos Marighella (Seu Jorge), político e ativista brasileiro que se tornou um dos líderes da resistência armada no Brasil e um dos grandes influenciadores do movimento estudantil da época. Acompanhando desde a sua entrada no movimento até os seus últimos momentos de vida, o filme traça toda a trajetória de sua luta e suas principais contribuições como combatente ao longo dos primeiros anos da Ditadura.

Seu Jorge interpretando Carlos Marighella

Desde seus primeiros momentos, Marighella diz a que vem. É um filme com um viés de esquerda, que tece uma crítica direta e pesada ao regime militar e escancara os horrores dos governantes e seus aliados enquanto exalta a resistência criada naquele tempo. Todo o seu roteiro se apoia nas ideias difundidas entre os grupos revolucionários e não se intimida de defender posições bastante radicais. E mesmo que esse lado político forte acabe por afugentar parte do público e possa, em dados momentos, glorificar seus protagonistas e suas ações ao ponto de não voltar críticas aos seus atos, este é também um ponto crucial da trama. Marighella depende dessa exposição política para realmente construir sua trama de forma feroz e influente.

O longa é bastante agressivo e exalta suas atuações intensas e levadas ao extremo, sendo impossível para o público ignorar o que está sendo dito e feito. Não há nenhum momento do filme que não seja carregado de tensão, e momentos de violência se espalham por toda a narrativa, criando um panorama bem visceral do que eram os tempos da Ditadura. Com uma atuação forte de Seu Jorge, Marighella se torna um protagonista cativante, ao mesmo tempo sábio e batalhador, capaz de discursos encorajadores e de ações extremas, de introduzir questões sociais e políticas sensíveis e de se engajar no combate contra as forças militares como um guerrilheiro.

cena do filme em que Marighella (Seu Jorge) é arrastado para fora de um cinema por agentes do governo.

Ao lado do protagonista, vemos a formação dos movimentos estudantis, aos quais o filme dá um ar bastante realista ao retratar o enorme engajamento de seus membros ao mesmo tempo em que expõe o seu despreparo para combater a Ditadura, sofrendo com a falta de armas e infraestrutura e com uma organização interna que vacila nos momentos de discordância entre seus líderes. Mostrando de perto as condições precárias dessa resistência, o longa consegue retratar o quão desigual foi a luta e estabelece comparações ácidas entre as posições políticas do governo e da resistência.

Humberto Carrão interpretando um dos revolucionários no filme Marighella

O retrato das forças militares também expõe a brutalidade de seus oficiais. Com a figura de antagonista centrada no delegado Lúcio, interpretado por Bruno Gagliasso, o filme promove o ódio e a repulsa contra os torturadores e agentes. O personagem de Gagliasso, principalmente, é perfeitamente desprezível para o seu papel no filme. Sempre com um ar arrogante de prepotência e falta completa de empatia, Lúcio é frio em sua abordagem e possui um fanatismo cego pela ideia de patriotismo implantada pelo regime, mas que não esconde o seu real gosto pela tortura que pratica. Ao mesmo tempo, sua inteligência é assustadora e o transforma em um adversário perigoso, que em alguns momentos perde o controle, mas que nunca deixa de atuar para o extermínio dos movimentos de resistência.

Bruno Gagliasso interpretando o delegado Lúcio em Marighella

Juntos, Seu Jorge e Gagliasso formam a dupla principal do filme, com os coadjuvantes sendo colocados em meio ao fogo cruzado e ao planejamento constante dos dois, criando uma tensão que se alimenta do ciclo interminável de ação e reação entre eles e do ódio que um nutre pelo outro. De um lado, temos Marighella aproveitando eventuais brechas no sistema para engatar o seu movimento, enquanto do outro temos os atos cada vez mais brutais de Lúcio, retratando com perfeição a escalada do regime rumo aos Anos de Chumbo.

Como mídia e forma de comunicação, o cinema não consegue ser totalmente parcial diante de fatos e questões políticas. Quando um filme assume esse lado político como sua grande força, pode proporcionar um excelente espaço para o debate de ideias, mesmo que afaste parte de seu público. Marighella não procura agradar. Seu objetivo é denunciar os crimes cometidos durante uma época sombria do brasil e que nunca foram devidamente punidos. Nesse sentido, é um filme que cumpre seu papel de maneira magistral, realmente se posicionando e defendendo suas ideias e os valores do personagem histórico que o inspirou. Nesse sentido, seu único erro talvez seja que, ao mergulhar profundamente nessas ideias, acabe glorificando-as ao extremo e esqueça de dar espaço para uma necessária autocrítica. Mas, como manifesto político, é possível perdoar o longa e deixar essa discussão para o debate entre o público.

botão de dar play no vídeo
Marighella

Marighella

Direção: 
Criação:
Roteirista 1
Roteirista 2
Roteirista 3
Diretor 1
Diretor 2
Diretor 3
Elenco Principal:
Ator 1
Ator 2
Ator 3
saiba mais sobre o filme
saiba mais sobre a série

Sabendo da polêmica de seu assunto, Marighella assume definitivamente um lado e retrata um ponto de vista que não tem a intenção de agradar, mas de provocar o debate e forçar o público a pensar a história de seu país, seu passado e seu presente.

crítica por
Luis Henrique Franco
5/11/2021

O grande problema dos filmes claramente políticos é que, por tratarem seus temas a partir de pontos de vista extremamente fortes e bem definidos, eles tendem a afastar uma parte do público que não concorda com tal ponto de vista. Marighella é exatamente esse tipo de filme, e não se envergonha de o ser. Com opiniões fortes e críticas extremamente pesadas contra a sociedade, este é um filme cujo teor político com certeza afastará pessoas que discordem dele.

Retratando o período da Ditadura Militar no Brasil, em especial o final dos anos 60 e a entrada dos chamados “Anos de Chumbo”, o filme do diretor Wagner Moura explora a vida e a luta de Carlos Marighella (Seu Jorge), político e ativista brasileiro que se tornou um dos líderes da resistência armada no Brasil e um dos grandes influenciadores do movimento estudantil da época. Acompanhando desde a sua entrada no movimento até os seus últimos momentos de vida, o filme traça toda a trajetória de sua luta e suas principais contribuições como combatente ao longo dos primeiros anos da Ditadura.

Seu Jorge interpretando Carlos Marighella

Desde seus primeiros momentos, Marighella diz a que vem. É um filme com um viés de esquerda, que tece uma crítica direta e pesada ao regime militar e escancara os horrores dos governantes e seus aliados enquanto exalta a resistência criada naquele tempo. Todo o seu roteiro se apoia nas ideias difundidas entre os grupos revolucionários e não se intimida de defender posições bastante radicais. E mesmo que esse lado político forte acabe por afugentar parte do público e possa, em dados momentos, glorificar seus protagonistas e suas ações ao ponto de não voltar críticas aos seus atos, este é também um ponto crucial da trama. Marighella depende dessa exposição política para realmente construir sua trama de forma feroz e influente.

O longa é bastante agressivo e exalta suas atuações intensas e levadas ao extremo, sendo impossível para o público ignorar o que está sendo dito e feito. Não há nenhum momento do filme que não seja carregado de tensão, e momentos de violência se espalham por toda a narrativa, criando um panorama bem visceral do que eram os tempos da Ditadura. Com uma atuação forte de Seu Jorge, Marighella se torna um protagonista cativante, ao mesmo tempo sábio e batalhador, capaz de discursos encorajadores e de ações extremas, de introduzir questões sociais e políticas sensíveis e de se engajar no combate contra as forças militares como um guerrilheiro.

cena do filme em que Marighella (Seu Jorge) é arrastado para fora de um cinema por agentes do governo.

Ao lado do protagonista, vemos a formação dos movimentos estudantis, aos quais o filme dá um ar bastante realista ao retratar o enorme engajamento de seus membros ao mesmo tempo em que expõe o seu despreparo para combater a Ditadura, sofrendo com a falta de armas e infraestrutura e com uma organização interna que vacila nos momentos de discordância entre seus líderes. Mostrando de perto as condições precárias dessa resistência, o longa consegue retratar o quão desigual foi a luta e estabelece comparações ácidas entre as posições políticas do governo e da resistência.

Humberto Carrão interpretando um dos revolucionários no filme Marighella

O retrato das forças militares também expõe a brutalidade de seus oficiais. Com a figura de antagonista centrada no delegado Lúcio, interpretado por Bruno Gagliasso, o filme promove o ódio e a repulsa contra os torturadores e agentes. O personagem de Gagliasso, principalmente, é perfeitamente desprezível para o seu papel no filme. Sempre com um ar arrogante de prepotência e falta completa de empatia, Lúcio é frio em sua abordagem e possui um fanatismo cego pela ideia de patriotismo implantada pelo regime, mas que não esconde o seu real gosto pela tortura que pratica. Ao mesmo tempo, sua inteligência é assustadora e o transforma em um adversário perigoso, que em alguns momentos perde o controle, mas que nunca deixa de atuar para o extermínio dos movimentos de resistência.

Bruno Gagliasso interpretando o delegado Lúcio em Marighella

Juntos, Seu Jorge e Gagliasso formam a dupla principal do filme, com os coadjuvantes sendo colocados em meio ao fogo cruzado e ao planejamento constante dos dois, criando uma tensão que se alimenta do ciclo interminável de ação e reação entre eles e do ódio que um nutre pelo outro. De um lado, temos Marighella aproveitando eventuais brechas no sistema para engatar o seu movimento, enquanto do outro temos os atos cada vez mais brutais de Lúcio, retratando com perfeição a escalada do regime rumo aos Anos de Chumbo.

Como mídia e forma de comunicação, o cinema não consegue ser totalmente parcial diante de fatos e questões políticas. Quando um filme assume esse lado político como sua grande força, pode proporcionar um excelente espaço para o debate de ideias, mesmo que afaste parte de seu público. Marighella não procura agradar. Seu objetivo é denunciar os crimes cometidos durante uma época sombria do brasil e que nunca foram devidamente punidos. Nesse sentido, é um filme que cumpre seu papel de maneira magistral, realmente se posicionando e defendendo suas ideias e os valores do personagem histórico que o inspirou. Nesse sentido, seu único erro talvez seja que, ao mergulhar profundamente nessas ideias, acabe glorificando-as ao extremo e esqueça de dar espaço para uma necessária autocrítica. Mas, como manifesto político, é possível perdoar o longa e deixar essa discussão para o debate entre o público.

confira o trailer

Crítica

Sabendo da polêmica de seu assunto, Marighella assume definitivamente um lado e retrata um ponto de vista que não tem a intenção de agradar, mas de provocar o debate e forçar o público a pensar a história de seu país, seu passado e seu presente.

escrito por
Luis Henrique Franco
5/11/2021
nascimento

Sabendo da polêmica de seu assunto, Marighella assume definitivamente um lado e retrata um ponto de vista que não tem a intenção de agradar, mas de provocar o debate e forçar o público a pensar a história de seu país, seu passado e seu presente.

escrito por
Luis Henrique Franco
5/11/2021

O grande problema dos filmes claramente políticos é que, por tratarem seus temas a partir de pontos de vista extremamente fortes e bem definidos, eles tendem a afastar uma parte do público que não concorda com tal ponto de vista. Marighella é exatamente esse tipo de filme, e não se envergonha de o ser. Com opiniões fortes e críticas extremamente pesadas contra a sociedade, este é um filme cujo teor político com certeza afastará pessoas que discordem dele.

Retratando o período da Ditadura Militar no Brasil, em especial o final dos anos 60 e a entrada dos chamados “Anos de Chumbo”, o filme do diretor Wagner Moura explora a vida e a luta de Carlos Marighella (Seu Jorge), político e ativista brasileiro que se tornou um dos líderes da resistência armada no Brasil e um dos grandes influenciadores do movimento estudantil da época. Acompanhando desde a sua entrada no movimento até os seus últimos momentos de vida, o filme traça toda a trajetória de sua luta e suas principais contribuições como combatente ao longo dos primeiros anos da Ditadura.

Seu Jorge interpretando Carlos Marighella

Desde seus primeiros momentos, Marighella diz a que vem. É um filme com um viés de esquerda, que tece uma crítica direta e pesada ao regime militar e escancara os horrores dos governantes e seus aliados enquanto exalta a resistência criada naquele tempo. Todo o seu roteiro se apoia nas ideias difundidas entre os grupos revolucionários e não se intimida de defender posições bastante radicais. E mesmo que esse lado político forte acabe por afugentar parte do público e possa, em dados momentos, glorificar seus protagonistas e suas ações ao ponto de não voltar críticas aos seus atos, este é também um ponto crucial da trama. Marighella depende dessa exposição política para realmente construir sua trama de forma feroz e influente.

O longa é bastante agressivo e exalta suas atuações intensas e levadas ao extremo, sendo impossível para o público ignorar o que está sendo dito e feito. Não há nenhum momento do filme que não seja carregado de tensão, e momentos de violência se espalham por toda a narrativa, criando um panorama bem visceral do que eram os tempos da Ditadura. Com uma atuação forte de Seu Jorge, Marighella se torna um protagonista cativante, ao mesmo tempo sábio e batalhador, capaz de discursos encorajadores e de ações extremas, de introduzir questões sociais e políticas sensíveis e de se engajar no combate contra as forças militares como um guerrilheiro.

cena do filme em que Marighella (Seu Jorge) é arrastado para fora de um cinema por agentes do governo.

Ao lado do protagonista, vemos a formação dos movimentos estudantis, aos quais o filme dá um ar bastante realista ao retratar o enorme engajamento de seus membros ao mesmo tempo em que expõe o seu despreparo para combater a Ditadura, sofrendo com a falta de armas e infraestrutura e com uma organização interna que vacila nos momentos de discordância entre seus líderes. Mostrando de perto as condições precárias dessa resistência, o longa consegue retratar o quão desigual foi a luta e estabelece comparações ácidas entre as posições políticas do governo e da resistência.

Humberto Carrão interpretando um dos revolucionários no filme Marighella

O retrato das forças militares também expõe a brutalidade de seus oficiais. Com a figura de antagonista centrada no delegado Lúcio, interpretado por Bruno Gagliasso, o filme promove o ódio e a repulsa contra os torturadores e agentes. O personagem de Gagliasso, principalmente, é perfeitamente desprezível para o seu papel no filme. Sempre com um ar arrogante de prepotência e falta completa de empatia, Lúcio é frio em sua abordagem e possui um fanatismo cego pela ideia de patriotismo implantada pelo regime, mas que não esconde o seu real gosto pela tortura que pratica. Ao mesmo tempo, sua inteligência é assustadora e o transforma em um adversário perigoso, que em alguns momentos perde o controle, mas que nunca deixa de atuar para o extermínio dos movimentos de resistência.

Bruno Gagliasso interpretando o delegado Lúcio em Marighella

Juntos, Seu Jorge e Gagliasso formam a dupla principal do filme, com os coadjuvantes sendo colocados em meio ao fogo cruzado e ao planejamento constante dos dois, criando uma tensão que se alimenta do ciclo interminável de ação e reação entre eles e do ódio que um nutre pelo outro. De um lado, temos Marighella aproveitando eventuais brechas no sistema para engatar o seu movimento, enquanto do outro temos os atos cada vez mais brutais de Lúcio, retratando com perfeição a escalada do regime rumo aos Anos de Chumbo.

Como mídia e forma de comunicação, o cinema não consegue ser totalmente parcial diante de fatos e questões políticas. Quando um filme assume esse lado político como sua grande força, pode proporcionar um excelente espaço para o debate de ideias, mesmo que afaste parte de seu público. Marighella não procura agradar. Seu objetivo é denunciar os crimes cometidos durante uma época sombria do brasil e que nunca foram devidamente punidos. Nesse sentido, é um filme que cumpre seu papel de maneira magistral, realmente se posicionando e defendendo suas ideias e os valores do personagem histórico que o inspirou. Nesse sentido, seu único erro talvez seja que, ao mergulhar profundamente nessas ideias, acabe glorificando-as ao extremo e esqueça de dar espaço para uma necessária autocrítica. Mas, como manifesto político, é possível perdoar o longa e deixar essa discussão para o debate entre o público.

ARTIGOS relacionados

deixe seu comentário