Crítica

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Ela Disse: os casos contra Weinstein finalmente ganham os cinemas

9/12/2022

Com grande atenção aos fatos e sem se deixar levar por arroubos de dramatização, Ela Disse foca na história das mulheres que denunciaram Harvey Weinstein e nas jornalistas que o investigaram, tecendo uma trama forte sem se tornar apelativa.

escrito por
Luis Henrique Franco

Com grande atenção aos fatos e sem se deixar levar por arroubos de dramatização, Ela Disse foca na história das mulheres que denunciaram Harvey Weinstein e nas jornalistas que o investigaram, tecendo uma trama forte sem se tornar apelativa.

escrito por
Luis Henrique Franco
9/12/2022

Seis anos após a explosão de denúncias contra Harvey Weinstein, o movimento Me Too se espalhou pelo globo, afetando empresas de diferentes portes e denunciando casos de violência e abuso sexual nos mais diferentes níveis da sociedade. Muitos casos que foram trazidos à tona ao longo das investigações do movimento foram adaptados para cinemas, e agora, o próprio caso construído contra Weinstein ganha seu direito à grande tela com o longa Ela Disse, da diretora Maria Schrader.

O longa acompanha a investigação realizada pelas repórteres Megan Twohey (Carey Mulligan) e Jodi Kantor (Zoe Kazan), do New York Times, a respeito de diversas denúncias feitas por mulheres alegando abusos sexuais realizados pelo grande produtor de Hollywood. As reportagens começam após as primeiras denúncias realizadas pela atriz Rose McGowan e vão avançando cada vez mais profundamente, encontrando outras atrizes, assistentes, diretoras e diversas funcionárias da produtora Miramax que sofreram o mesmo. Mas a investigação logo encontra problemas quando é revelado que o próprio Weinstein teria feito acordos para silenciar essas mulheres.

Megan (Mulligan) e Jodi (Kazan) falam ao telefone com uma fonte.

Ela Disse se constrói como um tipo muito comum de filme hollywoodiano, apoiando-se em fatos reais recentes para construir sua narrativa. Mesmo um movimento atual como o Me Too já foi bastante explorado nos cinemas, com um exemplo recente no filme O Escândalo, que explorou as denúncias de jornalistas contra o chefão da Fox News, Roger Aisle. Mas mesmo que esse tema já tenha sido bastante explorado, as denúncias contra Weinstein, particularmente, não foram trazidas para os filmes com tanta frequência e são pouco exploradas no geral. Seja porque as próprias produtoras desejam acobertar seu envolvimento ou conhecimento sobre os casos, o fato é que Ela Disse explora um lado do movimento que ainda foi pouco utilizado em narrativas cinematográficas. Por conta disso, é interessante que o filme não tenta construir um drama cheio de apelos sentimentais e exageros, mas que se concentra na investigação dos fatos.

Em uma construção de narrativa lenta, a trama se molda sem grandes momentos de clímax ou de maior intensidade. A atmosfera de todo o filme é permeada por uma tensão crescente que se desenvolve a cada nova mulher entrevistada, a cada nova vítima que não deseja se expor, a cada passo da equipe de Weinstein para abafar a investigação. Schrader compreende a seriedade do que está mostrando, e sua análise do ocorrido opta por seguir a investigação das jornalistas passo a passo, até culminar em resoluções que são catárticas e satisfatórias sem a necessidade de um apelo dramático (na maior parte do tempo, pelo menos). As investigações contra Weinstein foram um evento que chocou o mundo e provocou mudanças significativas nas políticas empresariais e de grandes estúdios. O filme sabe disso e o trata com a seriedade que um evento desses necessita.

Jodi Kantor (Kazan) conversa com uma das vítimas de Weinstein

O roteiro e a direção optam por um olhar mais realista e uma construção mais "seca" e direta, focando os fatos ocorridos de uma forma que beneficia a trama por elevar a seriedade dos acontecimentos. As personagens também se beneficiam desse olhar menos glorificado que reconhece seus feitos ao mesmo tempo em que aponta o estresse sofrido a cada reviravolta e a cada dificuldade enfrentada e permite a ambas terem momentos bastante humanos que realçam a compreensão do público a respeito delas e da situação em que cada uma se encontra. Também é uma trama que compreende bem as dificuldades do trabalho jornalístico, os ataques sofridos, a dificuldade de se conseguir uma fonte que aceite ir a público, as respostas em cima da hora que alteram o planejamento da produção.

A equipe jornalística (Zoe Kazan, Carey Mulligan, Andre Braugher e Patricia Clarkson) se reúne para discutir a resposta de Weinstein

Dando oportunidade para seu elenco se desenvolver nessa trama mais centrada e realista, Ela Disse é imediatamente dominado pelas suas duas atrizes principais, em especial Carey Mulligan, que demonstra uma atuação poderosa, tomando conta da cena simplesmente com sua presença e estabelecendo uma personagem forte sem cair em clichês de atuação. Sutil quando precisa, Mulligan nunca parece caricata e se entrega ao papel com inigualável dedicação, constituindo-se como uma forte candidata ao Oscar de Melhor Atriz desse ano. Embora não tão forte quanto Mulligan, Zoe Kazan apresenta uma atuação firme e sustenta a personagem de uma repórter mais jovem, mas igualmente dedicada e capaz. Sua atuação possui algumas pequenas falhas, mas nada que faça o público divergir de sua história.

Carey Mulligan como a repórter Megan Twohey

Em uma época em que o movimento Me Too ainda colhe seus frutos e suas polêmicas, Ela Disse se constitui como um filme importante e que trata de um tema essencial, mas não faz isso de maneira apelativa e entende perfeitamente a importância do que quer dizer. Sua história é forte por si só e tratada com seriedade, impedida de se tornar mais uma narrativa mirabolante e exagerada sobre fatos reais. Por causa disso, talvez não seja um filme que chame muita atenção do grande público. Seu impacto, porém, é consideravelmente maior sobre aqueles que o assistem.

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Ela Disse

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Direção: 
Criação:
Roteirista 1
Roteirista 2
Roteirista 3
Diretor 1
Diretor 2
Diretor 3
Elenco Principal:
Ator 1
Ator 2
Ator 3
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Com grande atenção aos fatos e sem se deixar levar por arroubos de dramatização, Ela Disse foca na história das mulheres que denunciaram Harvey Weinstein e nas jornalistas que o investigaram, tecendo uma trama forte sem se tornar apelativa.

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Luis Henrique Franco
9/12/2022

Seis anos após a explosão de denúncias contra Harvey Weinstein, o movimento Me Too se espalhou pelo globo, afetando empresas de diferentes portes e denunciando casos de violência e abuso sexual nos mais diferentes níveis da sociedade. Muitos casos que foram trazidos à tona ao longo das investigações do movimento foram adaptados para cinemas, e agora, o próprio caso construído contra Weinstein ganha seu direito à grande tela com o longa Ela Disse, da diretora Maria Schrader.

O longa acompanha a investigação realizada pelas repórteres Megan Twohey (Carey Mulligan) e Jodi Kantor (Zoe Kazan), do New York Times, a respeito de diversas denúncias feitas por mulheres alegando abusos sexuais realizados pelo grande produtor de Hollywood. As reportagens começam após as primeiras denúncias realizadas pela atriz Rose McGowan e vão avançando cada vez mais profundamente, encontrando outras atrizes, assistentes, diretoras e diversas funcionárias da produtora Miramax que sofreram o mesmo. Mas a investigação logo encontra problemas quando é revelado que o próprio Weinstein teria feito acordos para silenciar essas mulheres.

Megan (Mulligan) e Jodi (Kazan) falam ao telefone com uma fonte.

Ela Disse se constrói como um tipo muito comum de filme hollywoodiano, apoiando-se em fatos reais recentes para construir sua narrativa. Mesmo um movimento atual como o Me Too já foi bastante explorado nos cinemas, com um exemplo recente no filme O Escândalo, que explorou as denúncias de jornalistas contra o chefão da Fox News, Roger Aisle. Mas mesmo que esse tema já tenha sido bastante explorado, as denúncias contra Weinstein, particularmente, não foram trazidas para os filmes com tanta frequência e são pouco exploradas no geral. Seja porque as próprias produtoras desejam acobertar seu envolvimento ou conhecimento sobre os casos, o fato é que Ela Disse explora um lado do movimento que ainda foi pouco utilizado em narrativas cinematográficas. Por conta disso, é interessante que o filme não tenta construir um drama cheio de apelos sentimentais e exageros, mas que se concentra na investigação dos fatos.

Em uma construção de narrativa lenta, a trama se molda sem grandes momentos de clímax ou de maior intensidade. A atmosfera de todo o filme é permeada por uma tensão crescente que se desenvolve a cada nova mulher entrevistada, a cada nova vítima que não deseja se expor, a cada passo da equipe de Weinstein para abafar a investigação. Schrader compreende a seriedade do que está mostrando, e sua análise do ocorrido opta por seguir a investigação das jornalistas passo a passo, até culminar em resoluções que são catárticas e satisfatórias sem a necessidade de um apelo dramático (na maior parte do tempo, pelo menos). As investigações contra Weinstein foram um evento que chocou o mundo e provocou mudanças significativas nas políticas empresariais e de grandes estúdios. O filme sabe disso e o trata com a seriedade que um evento desses necessita.

Jodi Kantor (Kazan) conversa com uma das vítimas de Weinstein

O roteiro e a direção optam por um olhar mais realista e uma construção mais "seca" e direta, focando os fatos ocorridos de uma forma que beneficia a trama por elevar a seriedade dos acontecimentos. As personagens também se beneficiam desse olhar menos glorificado que reconhece seus feitos ao mesmo tempo em que aponta o estresse sofrido a cada reviravolta e a cada dificuldade enfrentada e permite a ambas terem momentos bastante humanos que realçam a compreensão do público a respeito delas e da situação em que cada uma se encontra. Também é uma trama que compreende bem as dificuldades do trabalho jornalístico, os ataques sofridos, a dificuldade de se conseguir uma fonte que aceite ir a público, as respostas em cima da hora que alteram o planejamento da produção.

A equipe jornalística (Zoe Kazan, Carey Mulligan, Andre Braugher e Patricia Clarkson) se reúne para discutir a resposta de Weinstein

Dando oportunidade para seu elenco se desenvolver nessa trama mais centrada e realista, Ela Disse é imediatamente dominado pelas suas duas atrizes principais, em especial Carey Mulligan, que demonstra uma atuação poderosa, tomando conta da cena simplesmente com sua presença e estabelecendo uma personagem forte sem cair em clichês de atuação. Sutil quando precisa, Mulligan nunca parece caricata e se entrega ao papel com inigualável dedicação, constituindo-se como uma forte candidata ao Oscar de Melhor Atriz desse ano. Embora não tão forte quanto Mulligan, Zoe Kazan apresenta uma atuação firme e sustenta a personagem de uma repórter mais jovem, mas igualmente dedicada e capaz. Sua atuação possui algumas pequenas falhas, mas nada que faça o público divergir de sua história.

Carey Mulligan como a repórter Megan Twohey

Em uma época em que o movimento Me Too ainda colhe seus frutos e suas polêmicas, Ela Disse se constitui como um filme importante e que trata de um tema essencial, mas não faz isso de maneira apelativa e entende perfeitamente a importância do que quer dizer. Sua história é forte por si só e tratada com seriedade, impedida de se tornar mais uma narrativa mirabolante e exagerada sobre fatos reais. Por causa disso, talvez não seja um filme que chame muita atenção do grande público. Seu impacto, porém, é consideravelmente maior sobre aqueles que o assistem.

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Com grande atenção aos fatos e sem se deixar levar por arroubos de dramatização, Ela Disse foca na história das mulheres que denunciaram Harvey Weinstein e nas jornalistas que o investigaram, tecendo uma trama forte sem se tornar apelativa.

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Luis Henrique Franco
9/12/2022
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Com grande atenção aos fatos e sem se deixar levar por arroubos de dramatização, Ela Disse foca na história das mulheres que denunciaram Harvey Weinstein e nas jornalistas que o investigaram, tecendo uma trama forte sem se tornar apelativa.

escrito por
Luis Henrique Franco
9/12/2022

Seis anos após a explosão de denúncias contra Harvey Weinstein, o movimento Me Too se espalhou pelo globo, afetando empresas de diferentes portes e denunciando casos de violência e abuso sexual nos mais diferentes níveis da sociedade. Muitos casos que foram trazidos à tona ao longo das investigações do movimento foram adaptados para cinemas, e agora, o próprio caso construído contra Weinstein ganha seu direito à grande tela com o longa Ela Disse, da diretora Maria Schrader.

O longa acompanha a investigação realizada pelas repórteres Megan Twohey (Carey Mulligan) e Jodi Kantor (Zoe Kazan), do New York Times, a respeito de diversas denúncias feitas por mulheres alegando abusos sexuais realizados pelo grande produtor de Hollywood. As reportagens começam após as primeiras denúncias realizadas pela atriz Rose McGowan e vão avançando cada vez mais profundamente, encontrando outras atrizes, assistentes, diretoras e diversas funcionárias da produtora Miramax que sofreram o mesmo. Mas a investigação logo encontra problemas quando é revelado que o próprio Weinstein teria feito acordos para silenciar essas mulheres.

Megan (Mulligan) e Jodi (Kazan) falam ao telefone com uma fonte.

Ela Disse se constrói como um tipo muito comum de filme hollywoodiano, apoiando-se em fatos reais recentes para construir sua narrativa. Mesmo um movimento atual como o Me Too já foi bastante explorado nos cinemas, com um exemplo recente no filme O Escândalo, que explorou as denúncias de jornalistas contra o chefão da Fox News, Roger Aisle. Mas mesmo que esse tema já tenha sido bastante explorado, as denúncias contra Weinstein, particularmente, não foram trazidas para os filmes com tanta frequência e são pouco exploradas no geral. Seja porque as próprias produtoras desejam acobertar seu envolvimento ou conhecimento sobre os casos, o fato é que Ela Disse explora um lado do movimento que ainda foi pouco utilizado em narrativas cinematográficas. Por conta disso, é interessante que o filme não tenta construir um drama cheio de apelos sentimentais e exageros, mas que se concentra na investigação dos fatos.

Em uma construção de narrativa lenta, a trama se molda sem grandes momentos de clímax ou de maior intensidade. A atmosfera de todo o filme é permeada por uma tensão crescente que se desenvolve a cada nova mulher entrevistada, a cada nova vítima que não deseja se expor, a cada passo da equipe de Weinstein para abafar a investigação. Schrader compreende a seriedade do que está mostrando, e sua análise do ocorrido opta por seguir a investigação das jornalistas passo a passo, até culminar em resoluções que são catárticas e satisfatórias sem a necessidade de um apelo dramático (na maior parte do tempo, pelo menos). As investigações contra Weinstein foram um evento que chocou o mundo e provocou mudanças significativas nas políticas empresariais e de grandes estúdios. O filme sabe disso e o trata com a seriedade que um evento desses necessita.

Jodi Kantor (Kazan) conversa com uma das vítimas de Weinstein

O roteiro e a direção optam por um olhar mais realista e uma construção mais "seca" e direta, focando os fatos ocorridos de uma forma que beneficia a trama por elevar a seriedade dos acontecimentos. As personagens também se beneficiam desse olhar menos glorificado que reconhece seus feitos ao mesmo tempo em que aponta o estresse sofrido a cada reviravolta e a cada dificuldade enfrentada e permite a ambas terem momentos bastante humanos que realçam a compreensão do público a respeito delas e da situação em que cada uma se encontra. Também é uma trama que compreende bem as dificuldades do trabalho jornalístico, os ataques sofridos, a dificuldade de se conseguir uma fonte que aceite ir a público, as respostas em cima da hora que alteram o planejamento da produção.

A equipe jornalística (Zoe Kazan, Carey Mulligan, Andre Braugher e Patricia Clarkson) se reúne para discutir a resposta de Weinstein

Dando oportunidade para seu elenco se desenvolver nessa trama mais centrada e realista, Ela Disse é imediatamente dominado pelas suas duas atrizes principais, em especial Carey Mulligan, que demonstra uma atuação poderosa, tomando conta da cena simplesmente com sua presença e estabelecendo uma personagem forte sem cair em clichês de atuação. Sutil quando precisa, Mulligan nunca parece caricata e se entrega ao papel com inigualável dedicação, constituindo-se como uma forte candidata ao Oscar de Melhor Atriz desse ano. Embora não tão forte quanto Mulligan, Zoe Kazan apresenta uma atuação firme e sustenta a personagem de uma repórter mais jovem, mas igualmente dedicada e capaz. Sua atuação possui algumas pequenas falhas, mas nada que faça o público divergir de sua história.

Carey Mulligan como a repórter Megan Twohey

Em uma época em que o movimento Me Too ainda colhe seus frutos e suas polêmicas, Ela Disse se constitui como um filme importante e que trata de um tema essencial, mas não faz isso de maneira apelativa e entende perfeitamente a importância do que quer dizer. Sua história é forte por si só e tratada com seriedade, impedida de se tornar mais uma narrativa mirabolante e exagerada sobre fatos reais. Por causa disso, talvez não seja um filme que chame muita atenção do grande público. Seu impacto, porém, é consideravelmente maior sobre aqueles que o assistem.

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