Retratando uma história real que ocorreu no começo dos anos 2000, O Enfermeiro da Noite é a nova aposta da Netflix que combina suspense e drama biográfico, às vezes privilegiando um gênero em detrimento do outro, mas mantendo um equilíbrio interessante entre ambos. A história segue a enfermeira Amy (Jessica Chastain), que trabalha no turno da noite em um hospital de Nova Jersey. Sobrecarregada com o trabalho, ela logo faz amizade com o novo enfermeiro, Charlie (Eddie Redmayne), que a ajuda em suas tarefas. Contudo, uma investigação começa a apontar Charlie como o responsável por diversas mortes estranhas em outros hospitais, forçando Amy a assumir um lado.
Longe de ser um filme que fisga a audiência com cenas alucinantes de investigação, suspense de roer as unhas ou uma narrativa agitada, O Enfermeiro da Noite é, na realidade, um filme devagar, que alterna entre o drama biográfico de seus personagens e a investigação realizada pela polícia, sem permitir que tudo se transforme em uma enorme trama de assassinatos. Cansativo em alguns pontos, o filme poderia muito bem ter cortado parte do seu material e ainda assim funcionaria bem. Contudo, o cansaço não chega a ser daquele tipo extremamente desgastante que impede a apreciação da obra.
Isso acontece devido à boa mescla com o lado dramático, no qual os personagens e a química entre os atores se encaixam muito bem. Chastain e Redmayne vivem uma boa dupla de protagonistas que criam uma convincente relação de amizade em um trabalho desgastante, no qual faltam pessoas para lidar com os pacientes e tudo se torna sobrecarregado. Esse drama é elevado pela própria condição da personagem de Chastain, cujo estresse intenso a faz ter problemas cardíacos que só colocam um ponto a mais na tensão da trama. A construção dessa relação na primeira metade do filme é essencial para o desenvolvimento do final, quando a parte investigativa ganha maior força, mas ainda assim não assume completamente a trama, pois permanece guiada pela relação dramática dos personagens.
Voltando agora para esse lado mais do suspense, é preciso dizer que, apesar do ritmo lento e da falta de algumas cenas mais carregadas, o filme não peca por essa escolha. Ao invés de mostrar momentos mais pesados, cenas de perseguição e momentos de confronto direto, a história opta por mostrar as reais dificuldades ocorridas no caso, no qual os próprios hospitais se recusavam a colaborar, criando enormes burocracias e deixando de entregar documentos essenciais para o caso. Por esse aspecto, o ritmo mais lento é até bom, pois reforça esse ar de dificuldade enfrentada pelos policiais.
Assim sendo, é correto dizer que O Enfermeiro da Noite não é um thriller como conhecemos, mas um drama biográfico que carrega aspectos de suspense e filme policial, mas que mantém seu foco em seus dois protagonistas, na relação construída entre eles e em como essa relação é afetada durante a investigação. Com duas atuações que, embora não inovadoras, são fortes o bastante para segurar a proposta do filme, a trama consegue se construir de forma a ser crível e envolvente, mesmo em seus momentos mais cansativos.
O Enfermeiro da Noite estreou nessa quarta-feira, dia 26, na Netflix, e se consolida como uma opção interessante para o momento do Halloween, além de poder figurar em algumas indicações para o Oscar desse ano. Confira!
