Crítica

Crítica

"Os Fabelmans" é introspectivo como homenagem e envolvente como drama, mas cansativo na duração

13/1/2023

Spielberg presta uma grande homenagem ao cinema ao mesmo tempo em que conta uma história muito pessoal e nos conquista com o drama de uma família cheia de conflitos internos, mas exagera naquilo que deseja falar e corre o risco de perder o público na duração.

escrito por
Luis Henrique Franco

Spielberg presta uma grande homenagem ao cinema ao mesmo tempo em que conta uma história muito pessoal e nos conquista com o drama de uma família cheia de conflitos internos, mas exagera naquilo que deseja falar e corre o risco de perder o público na duração.

escrito por
Luis Henrique Franco
13/1/2023

Renomado como um diretor de filmes extremamente envolventes, Spielberg sempre buscou contar histórias dramáticas e épicas, seja em seus clássicos de ficção científica, em seus dramas de época ou suas narrativas sobre a guerra. Assim sendo, Os Fabelmans certamente se destaca em sua filmografia por ser um filme mais introspectivo e intimista, trazendo, no lugar de uma história grandiosa, um drama mais pessoal e simples, centrado em reflexões pessoais do próprio diretor.

A narrativa em si é um drama que acompanha a família que dá título ao filme. Tendo como protagonista o jovem Sammy Fabelman (Gabriel LaBelle), que o público logo identifica como uma versão fictícia para o jovem Spielberg, o filme elabora uma conhecida história de amadurecimento que acompanha o garoto durante a sua infância e, principalmente, a sua adolescência, períodos em que ele descobre seu amor pelo cinema e se dedica intensamente a produzir filmes amadores e a trabalhar suas próprias técnicas artísticas de direção. Ao mesmo tempo, o longa trabalha um conflito interno dentro da família, protagonizado pela relação de Sammy com seus pais, Mitzi (Michelle Williams) e Burt (Paul Dano).

A família Fabelman se reúne em sua nova casa

Estabelecendo um arco principal que envolve toda a trama, o filme se divide em arcos menores, cada um deles contendo uma trama menor envolvendo momentos importantes de amadurecimento do protagonista. Focados em momentos diferentes de sua infância e adolescência, esses arcos permitem ao filme focar mais atentamente em elementos dos conflitos internos da família, como as disputas e os segredos entre o pai e a mãe, as semelhanças e os problemas criados entre Sammy e sua mãe, a jornada do rapaz para convencer o pai do seu amor por cinema. Por causa dessa construção, o filme não possui uma organização tradicional de começo, meio e fim. Cada um desses arcos apresenta esses elementos internamente, marcando conflitos diferentes da vida do protagonistas e encerrando-os no mesmo bloco.

Tal construção permite a ampliação desses conflitos familiares, estabelecendo conexões entre os diversos momentos da família que nos permitem ver a evolução de seus membros e dos problemas que os acompanham: a procura de Sammy por sua própria vocação; a dificuldade de Burt de sustentar sua família e, ao mesmo, tempo estar presente em seus momentos e prestar atenção nos desejos de todos ao seu redor; o conflito de Mitzi em estar presente para seus filhos e maridos, mesmo que isso negue a ela seus desejos internos. Tudo isso é estabelecido de forma a nos fazer simpatizar com os personagens e compreender suas escolhas, mesmo que não concordemos com elas.

Mitzi (Michelle Williams) presenteia Sammy com uma nova câmera

Ao mesmo tempo em que constrói esse drama interno, Spielberg também presta sua homenagem ao cinema. Contrastando momentos da vida de Sammy com os filmes da época, ele não só homenageia as grandes produções da época, como também faz uma certa análise da própria produção dos filmes, colocando as experimentações de Sammy com a câmera de forma a introduzir para o público as técnicas do fazer cinematográfico. É quase como se Spielberg brincasse de "fazer cinema" em seu filme, divertindo-se enquanto desvenda as técnicas que se tornaram suas marcas registradas e a forma como os filmes da época o introduziram a essas técnicas para que ele as repetisse à sua própria maneira.

Sammy (Gabriel LaBelle) conduz uma de suas filmagens

Os Fabelmans é uma carta de amor ao fazer cinematográfico e à maneira como os filmes constroem seus pontos de vista, permitindo que pessoas e personagens sejam vistos de maneiras diferentes dependendo de como são focados e mudando nossa opinião sobre acontecimentos e eventos dependendo do enfoque e da atenção que lhe são dados. E Spielberg estabelece um diálogo no filme no qual essas técnicas e focos são expostos nos filmes feitos por Sammy, para depois se apresentarem no longa em si para que o público os identifique e perceba mais atentamente a mensagem que o diretor deseja transmitir. De uma maneira bastante bonita e íntima, Spielberg estabelece assim uma homenagem ao cinema que se traduz na forma como este influenciou a sua vida, tornando todas as mensagens em Os Fabelmans ainda mais pessoais, introspectivas e reflexivas do que se ele simplesmente jogasse referências a filmes clássicos a todo o momento.

A família Fabelman vai assistir a um filme no cinema

Suas mensagens e reflexões são extremamente beneficiadas também pelo seu domínio técnico, típicos de um diretor com tamanha experiência quanto ele, e pela atuação exemplar do elenco. Do lado técnico, temos toda a experiência com movimentos de câmera, edição e montagem que o diretor traz para seus filmes, capaz de construir uma história fantástica até com momentos simples da vida em família.

O jovem Sammy assiste a uma gravação projetada na palma de sua mão

Soma-se a isso a atuação do elenco, liderado por Williams e Dano, que brilham em interpretações mais sutis que condizem muito com um filme sem um grande clímax explosivo. Atuações que talvez não rendam um grande momento épico, mas que demonstram com força e paixão uma internalização dos dramas e das dificuldades que assombram essa família sem a necessidade de gritar ou explodir em cena para isso. Dano talvez traga essa atuação mais sutil com mais força, estabelecendo um personagem mais frio e que não deixa suas tensões transparecerem tão visivelmente, enquanto Williams cria uma persona mais expansiva e que chama uma atenção maior para si, mas a atuação de ambos se complementam exemplarmente e dão enorme força ao filme.

Burt (Paul Dano) tem uma conversa pessoal com seu filho Sammy

O maior inimigo de Os Fabelmans, dito tudo isso, talvez seja a sua duração. Com tamanho empenho na construção de uma drama familiar envolvente e de uma homenagem marcante ao cinema, Spielberg parece perder um pouco a noção do tamanho que sua história assume, dando-lhe detalhes demais que, embora enriqueçam a história, também a tornam cansativa para o espectador. O fato de que o filme não possui grandes momentos de clímax contribui para lhe dar um aspecto um pouco morno que não compromete o filme por si só, mas que somado à longa duração, faz com que o público se disperse e cria um problema para suas reflexões finais, que muitas vezes não atingem o espectador com o mesmo impacto, pois este já começa a se perguntar quanto tempo falta para a trama se encerrar.

Assim, embora apresente um conteúdo extremamente rico e demonstre toda a capacidade técnica e artística de seu diretor, Os Fabelmans cai na armadilha de se achar grandioso demais. Embora nunca se torne exaustivo, certamente testa a fidelidade de seu espectador quando parece se prolongar demais sem necessidade.

EXPECTATIVAS PARA O OSCAR

Prêmios Indicados: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Atriz, Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Trilha Sonora, Melhor Roteiro Original, Melhor Design de Produção.

Os Fabelmans se encontra em uma posição peculiar no Oscar desse ano: ao mesmo tempo em que é um dos favoritos do ano, também não detém uma enorme vantagem sobre seus concorrentes. Na realidade, o filme não é, na maioria de suas indicações, o favorito a vencer, detendo um pouco mais de chances nos prêmios principais do que nas demais categorias.

Começando pelos prêmios mais técnicos. Design de Produção certamente não é o grande destaque do filme, apesar de sua construção dos anos 60 e 70 ser bastante convidativa e promover bem a imersão do público em um ambiente familiar do subúrbio e caracterizar bem o mundo íntimo e difícil no qual seus protagonistas tentam ganhar a vida. Ainda assim, não é um aspecto muito destacado no longa e perde espaço para outros indicados que dão maior atenção a esse quesito.

O mesmo pode ser dito sobre Trilha Sonora. John Williams é o compositor mais consagrado de Hollywood é maestro de inúmeras obras que se enquadram perfeitamente em seus filmes, fortalecendo seus pontos principais. Os Fabelmans não é diferente, e a música aqui assume um aspecto intimista e familiar, reforçando os momentos de aconchego e felicidade com um caráter quase imaginativo, que é propositalmente quebrado nas cenas mais dramáticas e tensas quando a família enfrenta uma crise. Mas por mais que tal trilha sonora consiga dar ao filme um poderoso reforço de suas emoções, ainda assim não é a obra que mais se destaca, sendo deixada de lado por outros indicados que exercem uma presença maior em seus filmes, com destaque talvez para o favorito Babilônia.

Nas categorias de atuação, encontramos novos problemas, e já vou falar do elefante na sala. Judd Hirsch possui um papel interessante, e sua influência sobre o protagonista é notória. Entretanto, seu personagem fica em cena por menos de cinco minutos, e sua performance nesse tempo não carrega nem de longe o impacto esperado de um indicado ao Oscar. Se fosse só por ele, não haveria tanto problema, visto que ele seria apenas o indicado inesperado que não deve conquistar a vitória. Mas quando vemos Hirsch ser indicado e Paul Dano ser esnobado, mesmo com uma forte performance marcada pela calma, a frieza e a sutilize e que se enquadra muito bem no filme, podemos claramente nos questionarmos se não seria melhor ter deixado a indicação com Dano, que carrega uma força muito maior durante todo o filme e possui uma atuação melhor também.

Judd Hirsch interpreta o tio de Sammy e conversa com o rapaz à mesa de jantar.

A indicação de Michelle Williams já era esperada. Sua performance possui boa parte da alma do filme, e ela corresponde a esse papel com magnanimidade, sendo a contraparte da atuação de Dano e marcada pela extrapolação, a imaginação e o lado mais extrovertido. Mas também é mais do que esperado que Williams deva perder o prêmio, especialmente quando vemos a sua disputa contra Cate Blanchett e Michelle Yeoh, duas gigantes que, esse ano, devem fazer uma competição pessoal pelo prêmio e deixar as outras indicadas quilômetros para trás.

Michelle Williams como Mitzi, enquanto a personagem dirige um carro.

Não ostentando muitas chances nesses prêmios, Os Fabelmans certamente detém suas melhores chances nas categorias de Roteiro e Direção. Tanto na escrita quanto na condução, Spielberg construiu um filme icônico, diferente do que geralmente vemos sair de suas mãos, mais íntimo, pessoal, uma reflexão sobre sua própria vida. E tudo isso é explorado a cada instante da história, seja pela maneira como o roteiro aborda a relação do protagonista com o cinema, seja pela forma como a direção brinca com os elementos cinematográficos de forma até metalinguística, fazendo-se notar no próprio filme. Já consagrado por décadas de trabalhos, Spielberg enfrenta pesada oposição em ambas as categorias, mas ao menos em direção parece se confirmar como o favorito.

Steven Spielberg conduz as filmagens ao lado de seu elenco

E esse favoritismo é o que impulsiona Os Fabelmans como Melhor Filme. Não é uma obra que brilha em seus elementos separados, mas que ascende no momento em que esses elementos se unem na forma de um filme completo. Assim, mesmo que certos aspectos possuam problemas, quando colocados dentro do roteiro e da direção magnânima de Spielberg, eles funcionam no filme e apenas colaboram para a sua construção. Por conta disso, pelo seu caráter bastante intimista e também pela sua homenagem ao cinema, Os Fabelmans figura como um forte favorito ao prêmio principal. Isso não quer dizer que sua vitória é garantida, e o filme de Spielberg pode ser vítima de algumas surpresas pelo caminho.

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Os Fabelmans

Os Fabelmans

Direção: 
Criação:
Roteirista 1
Roteirista 2
Roteirista 3
Diretor 1
Diretor 2
Diretor 3
Elenco Principal:
Ator 1
Ator 2
Ator 3
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Spielberg presta uma grande homenagem ao cinema ao mesmo tempo em que conta uma história muito pessoal e nos conquista com o drama de uma família cheia de conflitos internos, mas exagera naquilo que deseja falar e corre o risco de perder o público na duração.

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Luis Henrique Franco
13/1/2023

Renomado como um diretor de filmes extremamente envolventes, Spielberg sempre buscou contar histórias dramáticas e épicas, seja em seus clássicos de ficção científica, em seus dramas de época ou suas narrativas sobre a guerra. Assim sendo, Os Fabelmans certamente se destaca em sua filmografia por ser um filme mais introspectivo e intimista, trazendo, no lugar de uma história grandiosa, um drama mais pessoal e simples, centrado em reflexões pessoais do próprio diretor.

A narrativa em si é um drama que acompanha a família que dá título ao filme. Tendo como protagonista o jovem Sammy Fabelman (Gabriel LaBelle), que o público logo identifica como uma versão fictícia para o jovem Spielberg, o filme elabora uma conhecida história de amadurecimento que acompanha o garoto durante a sua infância e, principalmente, a sua adolescência, períodos em que ele descobre seu amor pelo cinema e se dedica intensamente a produzir filmes amadores e a trabalhar suas próprias técnicas artísticas de direção. Ao mesmo tempo, o longa trabalha um conflito interno dentro da família, protagonizado pela relação de Sammy com seus pais, Mitzi (Michelle Williams) e Burt (Paul Dano).

A família Fabelman se reúne em sua nova casa

Estabelecendo um arco principal que envolve toda a trama, o filme se divide em arcos menores, cada um deles contendo uma trama menor envolvendo momentos importantes de amadurecimento do protagonista. Focados em momentos diferentes de sua infância e adolescência, esses arcos permitem ao filme focar mais atentamente em elementos dos conflitos internos da família, como as disputas e os segredos entre o pai e a mãe, as semelhanças e os problemas criados entre Sammy e sua mãe, a jornada do rapaz para convencer o pai do seu amor por cinema. Por causa dessa construção, o filme não possui uma organização tradicional de começo, meio e fim. Cada um desses arcos apresenta esses elementos internamente, marcando conflitos diferentes da vida do protagonistas e encerrando-os no mesmo bloco.

Tal construção permite a ampliação desses conflitos familiares, estabelecendo conexões entre os diversos momentos da família que nos permitem ver a evolução de seus membros e dos problemas que os acompanham: a procura de Sammy por sua própria vocação; a dificuldade de Burt de sustentar sua família e, ao mesmo, tempo estar presente em seus momentos e prestar atenção nos desejos de todos ao seu redor; o conflito de Mitzi em estar presente para seus filhos e maridos, mesmo que isso negue a ela seus desejos internos. Tudo isso é estabelecido de forma a nos fazer simpatizar com os personagens e compreender suas escolhas, mesmo que não concordemos com elas.

Mitzi (Michelle Williams) presenteia Sammy com uma nova câmera

Ao mesmo tempo em que constrói esse drama interno, Spielberg também presta sua homenagem ao cinema. Contrastando momentos da vida de Sammy com os filmes da época, ele não só homenageia as grandes produções da época, como também faz uma certa análise da própria produção dos filmes, colocando as experimentações de Sammy com a câmera de forma a introduzir para o público as técnicas do fazer cinematográfico. É quase como se Spielberg brincasse de "fazer cinema" em seu filme, divertindo-se enquanto desvenda as técnicas que se tornaram suas marcas registradas e a forma como os filmes da época o introduziram a essas técnicas para que ele as repetisse à sua própria maneira.

Sammy (Gabriel LaBelle) conduz uma de suas filmagens

Os Fabelmans é uma carta de amor ao fazer cinematográfico e à maneira como os filmes constroem seus pontos de vista, permitindo que pessoas e personagens sejam vistos de maneiras diferentes dependendo de como são focados e mudando nossa opinião sobre acontecimentos e eventos dependendo do enfoque e da atenção que lhe são dados. E Spielberg estabelece um diálogo no filme no qual essas técnicas e focos são expostos nos filmes feitos por Sammy, para depois se apresentarem no longa em si para que o público os identifique e perceba mais atentamente a mensagem que o diretor deseja transmitir. De uma maneira bastante bonita e íntima, Spielberg estabelece assim uma homenagem ao cinema que se traduz na forma como este influenciou a sua vida, tornando todas as mensagens em Os Fabelmans ainda mais pessoais, introspectivas e reflexivas do que se ele simplesmente jogasse referências a filmes clássicos a todo o momento.

A família Fabelman vai assistir a um filme no cinema

Suas mensagens e reflexões são extremamente beneficiadas também pelo seu domínio técnico, típicos de um diretor com tamanha experiência quanto ele, e pela atuação exemplar do elenco. Do lado técnico, temos toda a experiência com movimentos de câmera, edição e montagem que o diretor traz para seus filmes, capaz de construir uma história fantástica até com momentos simples da vida em família.

O jovem Sammy assiste a uma gravação projetada na palma de sua mão

Soma-se a isso a atuação do elenco, liderado por Williams e Dano, que brilham em interpretações mais sutis que condizem muito com um filme sem um grande clímax explosivo. Atuações que talvez não rendam um grande momento épico, mas que demonstram com força e paixão uma internalização dos dramas e das dificuldades que assombram essa família sem a necessidade de gritar ou explodir em cena para isso. Dano talvez traga essa atuação mais sutil com mais força, estabelecendo um personagem mais frio e que não deixa suas tensões transparecerem tão visivelmente, enquanto Williams cria uma persona mais expansiva e que chama uma atenção maior para si, mas a atuação de ambos se complementam exemplarmente e dão enorme força ao filme.

Burt (Paul Dano) tem uma conversa pessoal com seu filho Sammy

O maior inimigo de Os Fabelmans, dito tudo isso, talvez seja a sua duração. Com tamanho empenho na construção de uma drama familiar envolvente e de uma homenagem marcante ao cinema, Spielberg parece perder um pouco a noção do tamanho que sua história assume, dando-lhe detalhes demais que, embora enriqueçam a história, também a tornam cansativa para o espectador. O fato de que o filme não possui grandes momentos de clímax contribui para lhe dar um aspecto um pouco morno que não compromete o filme por si só, mas que somado à longa duração, faz com que o público se disperse e cria um problema para suas reflexões finais, que muitas vezes não atingem o espectador com o mesmo impacto, pois este já começa a se perguntar quanto tempo falta para a trama se encerrar.

Assim, embora apresente um conteúdo extremamente rico e demonstre toda a capacidade técnica e artística de seu diretor, Os Fabelmans cai na armadilha de se achar grandioso demais. Embora nunca se torne exaustivo, certamente testa a fidelidade de seu espectador quando parece se prolongar demais sem necessidade.

EXPECTATIVAS PARA O OSCAR

Prêmios Indicados: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Atriz, Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Trilha Sonora, Melhor Roteiro Original, Melhor Design de Produção.

Os Fabelmans se encontra em uma posição peculiar no Oscar desse ano: ao mesmo tempo em que é um dos favoritos do ano, também não detém uma enorme vantagem sobre seus concorrentes. Na realidade, o filme não é, na maioria de suas indicações, o favorito a vencer, detendo um pouco mais de chances nos prêmios principais do que nas demais categorias.

Começando pelos prêmios mais técnicos. Design de Produção certamente não é o grande destaque do filme, apesar de sua construção dos anos 60 e 70 ser bastante convidativa e promover bem a imersão do público em um ambiente familiar do subúrbio e caracterizar bem o mundo íntimo e difícil no qual seus protagonistas tentam ganhar a vida. Ainda assim, não é um aspecto muito destacado no longa e perde espaço para outros indicados que dão maior atenção a esse quesito.

O mesmo pode ser dito sobre Trilha Sonora. John Williams é o compositor mais consagrado de Hollywood é maestro de inúmeras obras que se enquadram perfeitamente em seus filmes, fortalecendo seus pontos principais. Os Fabelmans não é diferente, e a música aqui assume um aspecto intimista e familiar, reforçando os momentos de aconchego e felicidade com um caráter quase imaginativo, que é propositalmente quebrado nas cenas mais dramáticas e tensas quando a família enfrenta uma crise. Mas por mais que tal trilha sonora consiga dar ao filme um poderoso reforço de suas emoções, ainda assim não é a obra que mais se destaca, sendo deixada de lado por outros indicados que exercem uma presença maior em seus filmes, com destaque talvez para o favorito Babilônia.

Nas categorias de atuação, encontramos novos problemas, e já vou falar do elefante na sala. Judd Hirsch possui um papel interessante, e sua influência sobre o protagonista é notória. Entretanto, seu personagem fica em cena por menos de cinco minutos, e sua performance nesse tempo não carrega nem de longe o impacto esperado de um indicado ao Oscar. Se fosse só por ele, não haveria tanto problema, visto que ele seria apenas o indicado inesperado que não deve conquistar a vitória. Mas quando vemos Hirsch ser indicado e Paul Dano ser esnobado, mesmo com uma forte performance marcada pela calma, a frieza e a sutilize e que se enquadra muito bem no filme, podemos claramente nos questionarmos se não seria melhor ter deixado a indicação com Dano, que carrega uma força muito maior durante todo o filme e possui uma atuação melhor também.

Judd Hirsch interpreta o tio de Sammy e conversa com o rapaz à mesa de jantar.

A indicação de Michelle Williams já era esperada. Sua performance possui boa parte da alma do filme, e ela corresponde a esse papel com magnanimidade, sendo a contraparte da atuação de Dano e marcada pela extrapolação, a imaginação e o lado mais extrovertido. Mas também é mais do que esperado que Williams deva perder o prêmio, especialmente quando vemos a sua disputa contra Cate Blanchett e Michelle Yeoh, duas gigantes que, esse ano, devem fazer uma competição pessoal pelo prêmio e deixar as outras indicadas quilômetros para trás.

Michelle Williams como Mitzi, enquanto a personagem dirige um carro.

Não ostentando muitas chances nesses prêmios, Os Fabelmans certamente detém suas melhores chances nas categorias de Roteiro e Direção. Tanto na escrita quanto na condução, Spielberg construiu um filme icônico, diferente do que geralmente vemos sair de suas mãos, mais íntimo, pessoal, uma reflexão sobre sua própria vida. E tudo isso é explorado a cada instante da história, seja pela maneira como o roteiro aborda a relação do protagonista com o cinema, seja pela forma como a direção brinca com os elementos cinematográficos de forma até metalinguística, fazendo-se notar no próprio filme. Já consagrado por décadas de trabalhos, Spielberg enfrenta pesada oposição em ambas as categorias, mas ao menos em direção parece se confirmar como o favorito.

Steven Spielberg conduz as filmagens ao lado de seu elenco

E esse favoritismo é o que impulsiona Os Fabelmans como Melhor Filme. Não é uma obra que brilha em seus elementos separados, mas que ascende no momento em que esses elementos se unem na forma de um filme completo. Assim, mesmo que certos aspectos possuam problemas, quando colocados dentro do roteiro e da direção magnânima de Spielberg, eles funcionam no filme e apenas colaboram para a sua construção. Por conta disso, pelo seu caráter bastante intimista e também pela sua homenagem ao cinema, Os Fabelmans figura como um forte favorito ao prêmio principal. Isso não quer dizer que sua vitória é garantida, e o filme de Spielberg pode ser vítima de algumas surpresas pelo caminho.

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Crítica

Spielberg presta uma grande homenagem ao cinema ao mesmo tempo em que conta uma história muito pessoal e nos conquista com o drama de uma família cheia de conflitos internos, mas exagera naquilo que deseja falar e corre o risco de perder o público na duração.

escrito por
Luis Henrique Franco
13/1/2023
nascimento

Spielberg presta uma grande homenagem ao cinema ao mesmo tempo em que conta uma história muito pessoal e nos conquista com o drama de uma família cheia de conflitos internos, mas exagera naquilo que deseja falar e corre o risco de perder o público na duração.

escrito por
Luis Henrique Franco
13/1/2023

Renomado como um diretor de filmes extremamente envolventes, Spielberg sempre buscou contar histórias dramáticas e épicas, seja em seus clássicos de ficção científica, em seus dramas de época ou suas narrativas sobre a guerra. Assim sendo, Os Fabelmans certamente se destaca em sua filmografia por ser um filme mais introspectivo e intimista, trazendo, no lugar de uma história grandiosa, um drama mais pessoal e simples, centrado em reflexões pessoais do próprio diretor.

A narrativa em si é um drama que acompanha a família que dá título ao filme. Tendo como protagonista o jovem Sammy Fabelman (Gabriel LaBelle), que o público logo identifica como uma versão fictícia para o jovem Spielberg, o filme elabora uma conhecida história de amadurecimento que acompanha o garoto durante a sua infância e, principalmente, a sua adolescência, períodos em que ele descobre seu amor pelo cinema e se dedica intensamente a produzir filmes amadores e a trabalhar suas próprias técnicas artísticas de direção. Ao mesmo tempo, o longa trabalha um conflito interno dentro da família, protagonizado pela relação de Sammy com seus pais, Mitzi (Michelle Williams) e Burt (Paul Dano).

A família Fabelman se reúne em sua nova casa

Estabelecendo um arco principal que envolve toda a trama, o filme se divide em arcos menores, cada um deles contendo uma trama menor envolvendo momentos importantes de amadurecimento do protagonista. Focados em momentos diferentes de sua infância e adolescência, esses arcos permitem ao filme focar mais atentamente em elementos dos conflitos internos da família, como as disputas e os segredos entre o pai e a mãe, as semelhanças e os problemas criados entre Sammy e sua mãe, a jornada do rapaz para convencer o pai do seu amor por cinema. Por causa dessa construção, o filme não possui uma organização tradicional de começo, meio e fim. Cada um desses arcos apresenta esses elementos internamente, marcando conflitos diferentes da vida do protagonistas e encerrando-os no mesmo bloco.

Tal construção permite a ampliação desses conflitos familiares, estabelecendo conexões entre os diversos momentos da família que nos permitem ver a evolução de seus membros e dos problemas que os acompanham: a procura de Sammy por sua própria vocação; a dificuldade de Burt de sustentar sua família e, ao mesmo, tempo estar presente em seus momentos e prestar atenção nos desejos de todos ao seu redor; o conflito de Mitzi em estar presente para seus filhos e maridos, mesmo que isso negue a ela seus desejos internos. Tudo isso é estabelecido de forma a nos fazer simpatizar com os personagens e compreender suas escolhas, mesmo que não concordemos com elas.

Mitzi (Michelle Williams) presenteia Sammy com uma nova câmera

Ao mesmo tempo em que constrói esse drama interno, Spielberg também presta sua homenagem ao cinema. Contrastando momentos da vida de Sammy com os filmes da época, ele não só homenageia as grandes produções da época, como também faz uma certa análise da própria produção dos filmes, colocando as experimentações de Sammy com a câmera de forma a introduzir para o público as técnicas do fazer cinematográfico. É quase como se Spielberg brincasse de "fazer cinema" em seu filme, divertindo-se enquanto desvenda as técnicas que se tornaram suas marcas registradas e a forma como os filmes da época o introduziram a essas técnicas para que ele as repetisse à sua própria maneira.

Sammy (Gabriel LaBelle) conduz uma de suas filmagens

Os Fabelmans é uma carta de amor ao fazer cinematográfico e à maneira como os filmes constroem seus pontos de vista, permitindo que pessoas e personagens sejam vistos de maneiras diferentes dependendo de como são focados e mudando nossa opinião sobre acontecimentos e eventos dependendo do enfoque e da atenção que lhe são dados. E Spielberg estabelece um diálogo no filme no qual essas técnicas e focos são expostos nos filmes feitos por Sammy, para depois se apresentarem no longa em si para que o público os identifique e perceba mais atentamente a mensagem que o diretor deseja transmitir. De uma maneira bastante bonita e íntima, Spielberg estabelece assim uma homenagem ao cinema que se traduz na forma como este influenciou a sua vida, tornando todas as mensagens em Os Fabelmans ainda mais pessoais, introspectivas e reflexivas do que se ele simplesmente jogasse referências a filmes clássicos a todo o momento.

A família Fabelman vai assistir a um filme no cinema

Suas mensagens e reflexões são extremamente beneficiadas também pelo seu domínio técnico, típicos de um diretor com tamanha experiência quanto ele, e pela atuação exemplar do elenco. Do lado técnico, temos toda a experiência com movimentos de câmera, edição e montagem que o diretor traz para seus filmes, capaz de construir uma história fantástica até com momentos simples da vida em família.

O jovem Sammy assiste a uma gravação projetada na palma de sua mão

Soma-se a isso a atuação do elenco, liderado por Williams e Dano, que brilham em interpretações mais sutis que condizem muito com um filme sem um grande clímax explosivo. Atuações que talvez não rendam um grande momento épico, mas que demonstram com força e paixão uma internalização dos dramas e das dificuldades que assombram essa família sem a necessidade de gritar ou explodir em cena para isso. Dano talvez traga essa atuação mais sutil com mais força, estabelecendo um personagem mais frio e que não deixa suas tensões transparecerem tão visivelmente, enquanto Williams cria uma persona mais expansiva e que chama uma atenção maior para si, mas a atuação de ambos se complementam exemplarmente e dão enorme força ao filme.

Burt (Paul Dano) tem uma conversa pessoal com seu filho Sammy

O maior inimigo de Os Fabelmans, dito tudo isso, talvez seja a sua duração. Com tamanho empenho na construção de uma drama familiar envolvente e de uma homenagem marcante ao cinema, Spielberg parece perder um pouco a noção do tamanho que sua história assume, dando-lhe detalhes demais que, embora enriqueçam a história, também a tornam cansativa para o espectador. O fato de que o filme não possui grandes momentos de clímax contribui para lhe dar um aspecto um pouco morno que não compromete o filme por si só, mas que somado à longa duração, faz com que o público se disperse e cria um problema para suas reflexões finais, que muitas vezes não atingem o espectador com o mesmo impacto, pois este já começa a se perguntar quanto tempo falta para a trama se encerrar.

Assim, embora apresente um conteúdo extremamente rico e demonstre toda a capacidade técnica e artística de seu diretor, Os Fabelmans cai na armadilha de se achar grandioso demais. Embora nunca se torne exaustivo, certamente testa a fidelidade de seu espectador quando parece se prolongar demais sem necessidade.

EXPECTATIVAS PARA O OSCAR

Prêmios Indicados: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Atriz, Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Trilha Sonora, Melhor Roteiro Original, Melhor Design de Produção.

Os Fabelmans se encontra em uma posição peculiar no Oscar desse ano: ao mesmo tempo em que é um dos favoritos do ano, também não detém uma enorme vantagem sobre seus concorrentes. Na realidade, o filme não é, na maioria de suas indicações, o favorito a vencer, detendo um pouco mais de chances nos prêmios principais do que nas demais categorias.

Começando pelos prêmios mais técnicos. Design de Produção certamente não é o grande destaque do filme, apesar de sua construção dos anos 60 e 70 ser bastante convidativa e promover bem a imersão do público em um ambiente familiar do subúrbio e caracterizar bem o mundo íntimo e difícil no qual seus protagonistas tentam ganhar a vida. Ainda assim, não é um aspecto muito destacado no longa e perde espaço para outros indicados que dão maior atenção a esse quesito.

O mesmo pode ser dito sobre Trilha Sonora. John Williams é o compositor mais consagrado de Hollywood é maestro de inúmeras obras que se enquadram perfeitamente em seus filmes, fortalecendo seus pontos principais. Os Fabelmans não é diferente, e a música aqui assume um aspecto intimista e familiar, reforçando os momentos de aconchego e felicidade com um caráter quase imaginativo, que é propositalmente quebrado nas cenas mais dramáticas e tensas quando a família enfrenta uma crise. Mas por mais que tal trilha sonora consiga dar ao filme um poderoso reforço de suas emoções, ainda assim não é a obra que mais se destaca, sendo deixada de lado por outros indicados que exercem uma presença maior em seus filmes, com destaque talvez para o favorito Babilônia.

Nas categorias de atuação, encontramos novos problemas, e já vou falar do elefante na sala. Judd Hirsch possui um papel interessante, e sua influência sobre o protagonista é notória. Entretanto, seu personagem fica em cena por menos de cinco minutos, e sua performance nesse tempo não carrega nem de longe o impacto esperado de um indicado ao Oscar. Se fosse só por ele, não haveria tanto problema, visto que ele seria apenas o indicado inesperado que não deve conquistar a vitória. Mas quando vemos Hirsch ser indicado e Paul Dano ser esnobado, mesmo com uma forte performance marcada pela calma, a frieza e a sutilize e que se enquadra muito bem no filme, podemos claramente nos questionarmos se não seria melhor ter deixado a indicação com Dano, que carrega uma força muito maior durante todo o filme e possui uma atuação melhor também.

Judd Hirsch interpreta o tio de Sammy e conversa com o rapaz à mesa de jantar.

A indicação de Michelle Williams já era esperada. Sua performance possui boa parte da alma do filme, e ela corresponde a esse papel com magnanimidade, sendo a contraparte da atuação de Dano e marcada pela extrapolação, a imaginação e o lado mais extrovertido. Mas também é mais do que esperado que Williams deva perder o prêmio, especialmente quando vemos a sua disputa contra Cate Blanchett e Michelle Yeoh, duas gigantes que, esse ano, devem fazer uma competição pessoal pelo prêmio e deixar as outras indicadas quilômetros para trás.

Michelle Williams como Mitzi, enquanto a personagem dirige um carro.

Não ostentando muitas chances nesses prêmios, Os Fabelmans certamente detém suas melhores chances nas categorias de Roteiro e Direção. Tanto na escrita quanto na condução, Spielberg construiu um filme icônico, diferente do que geralmente vemos sair de suas mãos, mais íntimo, pessoal, uma reflexão sobre sua própria vida. E tudo isso é explorado a cada instante da história, seja pela maneira como o roteiro aborda a relação do protagonista com o cinema, seja pela forma como a direção brinca com os elementos cinematográficos de forma até metalinguística, fazendo-se notar no próprio filme. Já consagrado por décadas de trabalhos, Spielberg enfrenta pesada oposição em ambas as categorias, mas ao menos em direção parece se confirmar como o favorito.

Steven Spielberg conduz as filmagens ao lado de seu elenco

E esse favoritismo é o que impulsiona Os Fabelmans como Melhor Filme. Não é uma obra que brilha em seus elementos separados, mas que ascende no momento em que esses elementos se unem na forma de um filme completo. Assim, mesmo que certos aspectos possuam problemas, quando colocados dentro do roteiro e da direção magnânima de Spielberg, eles funcionam no filme e apenas colaboram para a sua construção. Por conta disso, pelo seu caráter bastante intimista e também pela sua homenagem ao cinema, Os Fabelmans figura como um forte favorito ao prêmio principal. Isso não quer dizer que sua vitória é garantida, e o filme de Spielberg pode ser vítima de algumas surpresas pelo caminho.

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